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DATAS AJOELHADAS À GULA DO BOLSO
Eufemismos tecem as pálpebras
como comporta de lágrimas desorganizadas.
O olhar como açude de promessas
sepultadas na lama prostituída aos pés.
Pessoas de conteúdo esquecido em lapso
nas veias de um manguito social.
Valores como funil entulhado de urtigas
em zaragata pelo chão do quotidiano.
Éticas como piano sem teclas,
servilmente engolidas por fontes secas.
Fontes cuja montanha resta
em pontes inacabadas para nenhures.
Pressentires hospedados
na carne da alma como esmalte de aço
no esqueleto osteoporoso da esperança.
Calendário de silhueta fula,
datas ajoelhadas à gula do bolso.
Careta de trapo como rasgão se alastra
na bainha de uma nódoa apaparicada por mentira.
Desmandos em ira, safira cujo brilho
convida à anarquia do tempo.
A pele da voz em arrepio
de tom conformado ao silicone frio.
A velocidade como ícone dos corpos
que se afastam do âmbar do toque.
O azul do céu como bracelete quebrada
sobre o verde morto da paisagem.
A imagem como pasto de um Diabo qualquer.
E nós cada vez mais o negro de um buraco que se auto-escava.
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