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A Estrada Com O Ofício

Enquanto ando pela estrada sem fim
Oiço ao longe uma música original
Chego mais perto para a perceber,
Era uma boa música por sinal.
Embora não a entenda
A música acompanhou-me até ao fim da estrada.

Sendo a estrada sem fim
Andei quilómetros e quilómetros.
Encontrei velhos e novos amigos,
Desde então ainda fiquei mais só
Porque eles não aparecem quando são necessários,
Aparecem quando lhes apetece
E eu não sou uma peça de um puzzle
Que é apenas colocada quando faz falta.

Talvez não pareça
Mas sou uma pessoa igual a muitas outras,
Posso ter asas, mas não consigo voar
Posso ter pernas e não conseguir andar.
Assim como todos, tenho os meus defeitos
Mas o meu maior defeito é não ter feitio
Sigo o que vai na minha alma,
Alma ensanguentada com o sangue de quem me perseguiu
Ou talvez com o sangue de quem me acompanhou,
Não sei, não me lembro
Para mim são apenas manchas vermelhas num lençol negro.

O caminho de cada um é único
Mesmo que tenha vários entroncamentos,
Ou até vários sentidos,
Em que se podem traçar laços e fixar personagens.
O meu caminho apenas tem rotundas
É nelas que eu me encontro com alguém
Mas assim que a acabo de a contornar
Continuo sozinho como sempre
Porque a minha vida
É criar encontros e desencontros
Entre Passado e Futuro.
Sou uma ponte em que todos pisam
Um elo de ligação que torna mais fácil o encontro.

Mas sou uma ponte de madeira,
Podre, queimada e velha
Que com a mais leve brisa de suspiros
Depressa se vai abaixo.
Nem que fosse de ferro, eu me aguentaria
Porque tenho sentimentos
Não de dor, pois já me habituei a ela,
Não de gozo ou desprezo, pois são meus companheiros,
Mas sinto o Mal que me atrai
Ou o Bem que me repele
E por mais que me tente expressar
Ninguém me encontra nas profundezas em que vagueio.

Sigo o que tenho a seguir
Quando chego ao fim de mais uma viagem
O Poço espera-me, de braços abertos.
Depois de uma colheita exaustiva
É hora de terminar o meu trabalho.
Entrego o meu corpo e sigo o meu culto.

Em cada época, uma estrada,
Em cada estrada, treze pessoas,
Em cada pessoa, dois sentimentos,
Em cada sentimento, três interesses,
Em cada interesse, sete passos,
Em cada passo, cinco marcas,
Em cada marca, um Apocalipse.

É em cada Apocalipse que entro em acção,
Pois no Apocalipse há uma total Devastação,
No fim da Devastação apenas fica um deserto
E o começo de uma nova época.

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terça-feira, julho 26, 2011 - 20:07

Poesia :

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DanielOniGuerreiro

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