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HABITO AS ARDÓSIAS DO CIO DO FOGO
De que Outono me faço,
se das curvas dos meus lábios
já não caem as folhas do meu beijo?
Como a noite sucumbe nos meus olhos,
assim a palavra morre na sombra da minha boca.
Chamo-me sem voz de longe,
como aspas de silêncio me ocupam
em escada até os caracóis do infinito.
De que sede me bebo,
se o sol do Inverno encalhou no meu corpo?
Como se a Primavera
fosse uma carta sem destinatário.
Trazida em lágrima por um pombo-correio
abatido nas montanhas ondeadas do pensamento.
Habito as ardósias do cio do fogo,
como se fosse uma rocha que não soubesse chorar.
De que espera me aqueço,
se desapareço por onde já nada me espera a mim?
Como um mundo preenchido de vazios,
onde as estrelas já não brilham e o arco-íris é branco.
Estrelas que estão suspensas na brisa do mar
como pontos negros na face pálida de Vénus.
Arco-íris como uma ponte de vime já podre,
onde cada passo pisa riscos como cobras escondidas.
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