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Haverá sempre outro cigarro

Nunca soubeste qual a parte do corpo em
Que se guarda o tempo, e se ninguém te
Disser o contrário, dirás que é a sofreguidão
Dos pulmões que o consome sempre que eles
Te suspendem no silêncio.

Sabes que só no ardor que corre pelo cigarro não
Te arrependes de ter envelhecido, de ter reaberto
As ruas que quase esqueceste para procurar alguém
Como tu nas janelas que ficaram por fechar.

Mas o teu fôlego será sempre apenas para saudar as
Sombras que se alongam do fundo do teu peito,
Porque esse lugar não mais será teu, é dos nomes,
Dos gestos e dos beijos que por lá se demoraram.

Contudo, haverá sempre outro cigarro que te
Acompanhará onde mais ninguém te espera.
E se o amanhã já fosse vivo dir-te-ia que é
Mesmo assim que se revolve o passado, só,
Num trago de fumo e cinzas, noutro dia errado.

Submited by

sexta-feira, fevereiro 19, 2010 - 21:39

Poesia :

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jopeman

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Comentários

imagem de ÔNIX

Re: Haverá sempre outro cigarro

Um tempo morto, por quem já nada tem, a não ser uma réstia de silêncio, que se esvai em goles de espanto, numa atmosfera densa mas ao mesmo tempo, sôfrega dum ar mais respirável. Abrem-se e fecham-se janelas, sempre que se inspira e expira, mas é nas ruas onde moram todos os nomes que por lá se escondem, que se encontram outros momentos num amanhã esperado

João parabéns por mais este belo poema.Bom mesmo ler-te

Favorito também

beijo

Matilde D'Ônix

imagem de Poetaminas

Re: Haverá sempre outro cigarro

Porque esse lugar não mais será teu, é dos nomes,
Dos gestos e dos beijos que por lá se demoraram.

Interessante a reflexão feita através da fumaça do cigarro. Cada coluna da fumaça parece a despedida de beijos, de gestos, de amores que se foram junto com ela. É como se soprasse para fora todas as mágoas guardadas lá dentro. Muito bonito e inspirado. beijos

imagem de Henrique

Re: Haverá sempre outro cigarro

Sabes que só no ardor que corre pelo cigarro não
Te arrependes de ter envelhecido, de ter reaberto
As ruas que quase esqueceste para procurar alguém
Como tu nas janelas que ficaram por fechar.

Uma bela junção de imagens fortes que nos pintam as telas de dias errados!!!

:-)

imagem de PedroSilva

Re: Haverá sempre outro cigarro

Foi, e é, um dos poemas, na WAF, que mais gostei de ler. :-)

Os meus parabéns pelo belo poema!

Um abraço
PedroSilva

imagem de Alcantra

Re: Haverá sempre outro cigarro

Interessante, análogo, porém paradoxal; o cigarro e o tempo passageiro. Sempre precisamos de algo para fugir da idade, assim faço-me dum trago.

Abraços,

Alcantra

imagem de LilaMarques

Re: Haverá sempre outro cigarro

Caro amigo João,

Que verdadeira aula de poética este poema! Como se consegue chegar à tanta densidade com igual beleza. É um verdadeiro tecer com as palavras, bordar, tear.

Ler-te é aprender sempre e amar mais a poesia.

Beijo grande.

imagem de Librisscriptaest

Re: Haverá sempre outro cigarro

"Mas o teu fôlego será sempre apenas para saudar as
Sombras que se alongam do fundo do teu peito,
Porque esse lugar não mais será teu, é dos nomes,
Dos gestos e dos beijos que por lá se demoraram."

Extremamente belo, cada palavra uma caricia sensivel, inteligente, perfeita!
Ler-te é sempre um privilegio e um verdadeiro prazer!
Beijinho tão grande em ti!
Inês

imagem de Nanda

Re: Haverá sempre outro cigarro

Jopeman,
Um poema muito interessante com uma conotação algo diferente da habitual, prova da tua versatilidade poética.
Beijo
Nanda

imagem de NunoCarvalho

Re: Haverá sempre outro cigarro

João,

O problema é que "haverá sempre outro cigarro".

Um belo poema.

Gostei de ler.

Abraço
:-)

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