JÁ O HAVIA PENSADO PENSAR ASSIM SEM PENSAR

Pergunto-me por mim.
Penso sem querer pensar.
Procuro-me em mim por mim.
Penso-me no que penso sem pensar.

Encontro-me em mim por mim.
Escuto-me, sem me ver para me pensar
o corpo a mentir e tocar a alma sem lhe mentir.
Ter identidade para me saber quando por mim me perguntar.

Penso-me sem saber o que pensar
sabendo ao que sabe a arquitectónica do pensamento.
Penso, mas não existo logo, pois só existo no pensamento.

Sou a minha casa, o barco que me carrega o ser,
o tribunal dos meus sentidos… O sentido do meu sentido!
Transporto três portas para algures na vida, nas pessoas, no destino.

Portas que o tempo tranca,
que o pensar destranca na solidão cujas fechaduras
feitas de noite e chuva têm cada uma a sua chave… A sua Lágrima!

Uma chave de água e sol
com os pesos da vida em forma de alvorada primaveril,
em código de silêncio escrito que abre os céus para me voar.

Outra chave de pedra e vento
com os pesos do mundo em forma de mar,
em código gravitacional com as cordas imaginárias
que prendem as marés à lua para habitar a estrada dos sonhos.

E outra chave de luz e poesia
com os pesos da paixão em forma de amar,
em código sem metáfora para que me ame e ser amado.

Penso… Grito a minha configuração
sem aparências da forma mais alta possível
e impossível só para me sentir a mim… Ser só eu no meu Eu.
Ser egoísta por um breve momento para me partilhar para sempre.

Penso para me aproximar o mais perto de mim,
entrar em mim para me conhecer bem de lés a lés,
acrescentando um pouco mais de infinito ao infinito.

E quando penso sem pensar, já o havia pensado pensar assim… Sem pensar!