LUGAR RÉPTIL

Lugar réptil
que amortece e ensurdece o tempo.

Barro fresco.
Tronco de mil formas sem forma.
Como alastro que nada preenche, que nada mancha.

Passo que não passa.
Traço que me abre os olhos
em abraço de braços abertos a tanto fechado.

Tanto certo que bate incerto
num coração que anda parado.
Morte viva na minha hora de nada em tudo.

Visão que nada traz.
Doação que nada recebe.
Amargo doce em acto desatado.

Fogo que não arde no laço da tarde.
Momento que sem nó já tanto ateou.
Corda velha que sem forca já tanto atou.

Veste-me com a nudez das estrelas.
Tão poucas para me cobrir os destapes da alma.

Tecto sem tecto.
Geografia em borrão no pensamento.
Como boca que não se cala, não se escuta.

Parede sem prumo.
Nascimento sem parto.
Como lágrima seca, sem rosto.

Árvore insone que o poeta habita.
Mão vazia como última ceia da palavra.
Pedra de ar sem nome que a musa cinzela…

… O silêncio.