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A Maldição

Há um velho conhecido,
Na praceta da cidade,
Um velho desses, já de idade,
Que vive só, feito humano,
Mas sem a vil humanidade.

E sentado nessa praça,
Estava o velho todo quieto,
No banco de concreto,
E parecia só pensar.

Trazendo encoleirados,
Como tirados da gaveta,
Olhos chocalhados,
Levando-os a passear.

E costurando entre as pessoas,
Observava as folhas secas,
Entre nuvens e facetas,
E o mendigo a esmolar.

Descoloria a grama verde,
Rebatia a varejeira,
E balançava como o mar.

E já com as pálpebras pesadas,
Lavou seus olhos lá na fonte,
E os descansaram no horizonte,
Bem além de seu olhar.

Mas na tarde já escura,
Em pequena amargura,
Rebateu-lhe um vento frio,
Que o fez cair do alto,
De seus vagos pensamentos,
Em suspenso vão vazio.

E em não mais de uma fração,
Seja de tempo ou de razão,
Como num último suspiro,
Afundado em retorção,
O pobre velho extasiado,
Viu no meio lá da praça,
Fulgurosa aparição.

Era como um espectro,
Indistinguível e sancarrão,
Que parecia nada mais,
Que vultuosa silhueta,
Vindo em sua direção.

E nessa hora de penumbra,
Onde não se percebia,
Se o que era que a trazia,
Era o escuro do mau tempo,
Ou o dia que caía,
Os seus olhos vidraram-se,
O seu corpo paralisara,
E suas mãos ficaram frias.

E o vento enlouqueceu,
Pesado e frio a correr,
Fazendo as folhas se soltarem,
Fazendo a Lua se esconder.

E era intenso tanto o transe,
E assustador o seu semblante,
Que fez os pombos se abandarem,
E pôs passantes a correr.

A dona de casa gritava,
Por suas roupas no varal,
E a idosa que cuidava,
De suas flores no quintal,
Via seus cães pularem,
Ladrando ao vendaval.

O rapaz que tentou correr,
Não conseguiu nem se mexer,
Enquanto o vento levava a bola,
Dos garotos da escola,
Que foram embora se esconder.

O bar fechara as portas,
E um elegante senhor,
Corria atrás duma cartola,
Ouvindo ao fundo algumas preces,
Do grupinho de carolas.

Mas não virou a hora,
Toda aquela ventania,
Fez a sua fuleria,
E logo foi-se embora.

E após o tempesteio,
O velho, na mesma posição,
Já não mais respirava.

E como pior assombração,
Juntou-se a multidão,
Curiosa e apavorada.

É um castigo de deus!
Alguém bradou lá do meio.
Uns diziam que era santo,
Outros que era um feiticeiro.

E alguns juravam que até viram,
Nas vítreas pupilas brancas,
O vulto negro de um ceifeiro,
Que foi sumindo com seus olhos,
Até cerrarem-se por inteiro.

E esse é um mistério,
Que para o túmulo levarão.

Pois coberto pela terra,
Que abraça toda inanição,
Jazerá uma verdade,
Mista a vermes e podridão.

E assim ao velho cumpriu-se o fim,
Como estranha maldição.

Não sentindo mais sua dor,
Não sentia a solidão.
Não sentindo mais os olhos,
Não sentia a escuridão.

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quarta-feira, dezembro 3, 2014 - 21:04

Poesia :

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Ken Sowyer

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