No olhar

Estou abaixo das raízes do monte
Olho as árvores acima de mim
Volto a olhar e tento crescer
Levantando a cabeça, ergo os pés
Volto a olhar pensando-me
Mais alta encontrar
E poder a vida atingir
Ou sentir a força vital
Erecta, vertical
Da pura imensidão divina

Um raio de sol, orvalhadas as folhas trespassa
Ramifica-se nos ramos raiando linhas oblíquas
Presenteando um matizado fulgor
Abóbada cintilante de celestiais estrelas

À noite docemente o vento assiste encantado
Numa ondulante valsa o todo abraçando
Ao som do ritmo uníssono das folhas
Num bailado iluminado de frenéticos pirilampos
Em reflexos lunares na calma ondulação das folhas

Olho agora para mim
Perdida na infinita contemplação
Que apenas aos santos é permitido
Não me vejo
Não me sinto
E procuro por mim
Nalgum pirilampo
Ou nalgum fio pendente
Ausente de mim