CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Noite Fechada - Parte II: O Sentimento de um Ocidental (Cesário Verde)
O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
II
Noite Fechada
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e criancas,
Bem raramente encerra uma mulher de "dom"!
E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.
Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!
E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.
Partem patrulhas de cavalaria
Dos arcos dos quartéis que foram já conventos;
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.
Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.
E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
Cesário Verde, In: Em Portugal a Camões, publicação extraordinária
do Jornal de Viagens do Porto, no dia 10 de Junho de 1880.
Submited by
Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 3254 leituras
other contents of AjAraujo
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Poetrix | Poemas - de "Magma" (Guimarães Rosa) | 2 | 23.790 | 06/11/2019 - 11:48 | Português | |
Videos/Música | Ave Maria - Schubert (Andre Rieu & Mirusia Louwerse) | 1 | 45.182 | 06/11/2019 - 11:02 | inglês | |
Poesia/Fantasia | Cabelos de fogo | 0 | 4.583 | 04/28/2018 - 21:38 | Português | |
Poesia/Dedicado | A criança dentro de ti | 0 | 3.182 | 04/28/2018 - 21:20 | Português | |
Poesia/Pensamentos | O porto espiritual | 0 | 4.291 | 04/28/2018 - 21:00 | Português | |
Poesia/Dedicado | Ano Novo (Ferreira Gullar) | 1 | 3.298 | 02/20/2018 - 19:17 | Português | |
Prosas/Drama | Os ninguéns (Eduardo Galeano) | 0 | 4.084 | 12/31/2017 - 19:09 | Português | |
Poesia/Dedicado | Passagem de ano (Carlos Drummond de Andrade) | 0 | 4.660 | 12/31/2017 - 18:59 | Português | |
Prosas/Contos | Um conto de dor e neve (AjAraujo) | 0 | 5.666 | 12/20/2016 - 11:42 | Português | |
Prosas/Contos | Conto de Natal (Rubem Braga) | 0 | 5.380 | 12/20/2016 - 11:28 | Português | |
Prosas/Contos | A mensagem na garrafa - conto de Natal (AjAraujo) | 0 | 6.250 | 12/04/2016 - 13:46 | Português | |
Poesia/Intervenção | Educar não é... castigar (AjAraujo) | 0 | 3.372 | 07/08/2016 - 00:54 | Português | |
Poesia/Intervenção | Dois Anjos (Gabriela Mistral) | 0 | 6.115 | 08/04/2015 - 23:50 | Português | |
Poesia/Dedicado | Fonte (Gabriela Mistral) | 0 | 4.246 | 08/04/2015 - 22:58 | Português | |
Poesia/Meditação | O Hino Cotidiano (Gabriela Mistral) | 0 | 5.135 | 08/04/2015 - 22:52 | Português | |
Poesia/Pensamentos | As portas não são obstáculos, mas diferentes passagens (Içami Tiba) | 0 | 5.260 | 08/02/2015 - 23:48 | Português | |
Poesia/Dedicado | Pétalas sobre o ataúde - a história de Pâmela (microconto) | 0 | 6.224 | 03/30/2015 - 11:56 | Português | |
Poesia/Dedicado | Ode para a rendição de uma infância perdida | 0 | 6.026 | 03/30/2015 - 11:45 | Português | |
Poesia/Tristeza | Entre luzes e penumbras | 0 | 4.396 | 03/30/2015 - 11:39 | Português | |
Poesia/Tristeza | No desfiladeiro | 1 | 6.551 | 07/26/2014 - 00:09 | Português | |
Poesia/Intervenção | Sinais da história | 0 | 4.371 | 07/17/2014 - 00:54 | Português | |
Poesia/Fantasia | E você ainda acha pouco? | 0 | 5.330 | 07/17/2014 - 00:51 | Português | |
Poesia/Aforismo | Descanso eterno | 2 | 5.750 | 07/03/2014 - 22:28 | Português | |
Poesia/Intervenção | Paisagem (Charles Baudelaire) | 0 | 5.542 | 07/03/2014 - 03:16 | Português | |
Poesia/Meditação | Elevação (Charles Baudelaire) | 0 | 5.737 | 07/03/2014 - 03:05 | Português |
Add comment