O fervor da carne

Languescia entre os restos de gente
Que a noite havia esbanjado
Quando vi a sua formosa silhueta
A bailar de encontro a mim

A neblina tropeçava do céu
Num orvalhar desengonçado
Regurgitando melancolia
Na cidade que ainda dormia

E somente o hálito de desejo
Que bufava do seu olhar
Rasgava a placitude da brisa
Como um torpedo de fervor

Tentei esconder o laivo de suco
Que assomava entre as pernas
Mas este subiu até ao rosto
Que corou excessivamente

O descaramento da carne escaldada
Transcendeu as palavras
E nos arrastou até à penumbra
De um leito caiado de tijolo

Onde os lábios vendo-se sós
Basculharam cada interstício
Num sapateado desenfreado
Que memorizou cada naco seu

As intimidades já suavam expectantes
Quando um ímpeto de vigor
Quebrou o acanhamento de ambas
Apresentando-as acaloradamente

E o galgar da sua avidez
Sobre o meu bucho maniatado
Depressa extravasou a paixão
Em precoces espasmos de deleite

Ainda o ânimo latia velozmente
Já a sua pluma se desvanecia
Gingando pelas brumas o doce saibro
Que ainda obrava na epiderme

Deixando a sua efervescência
A chilrear sobre os sentidos
E a sua perpetua reminiscência
Para idolatrar nas noites solitárias