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O morredouro

Na minha rua há um morredouro, quase como


aquele da Irmã Angélica de Bombaim.


Lá, tudo é miserável e não há enfermeiras,


só moribundos, decadentes, agonizantes,


cujas vidas não podem ser saciadas com


comidas ou remédios terrenos.


As paredes são descarnadas e pequenas valas


serpenteiam entre as enxergas,


um acúmulo de sangue, pus, escarros e lágrimas.


Tudo forma um quadro de pintura abstrata,


involuntária, de chãos e paredes multicores,


vermentos, com predominância do vermelho.


Cães comem pelos cantos e lambem as valas;


não é justo chamá-los de nojentos: não há


nojo em saciar a fome, há satisfação.


Vê-se uma sutil beleza naquela podridão,


naquele concerto de gemidos e lamentos.


Oh! Deus! Quando minhas pernas bambearem


estarei lá, adepto da loucura por algumas


horas, alguns meses ou até a hora extrema,


a critério dos vermes que, quase imperceptivelmente,


já me corroem as entranhas...

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terça-feira, maio 24, 2011 - 17:05

Poesia :

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