Página em branco

As minhas mãos escondem-se por entre os cabelos
Enrolam-nos em movimentos de angústia
Qual novelo de mágoas num poço sem fundo!
Aconchegam-se entre eles, os olhos fecham-se
Resguardo o rosto num eclipse sombrio
Como se me enclausurasse em mim, do mundo, da existência!
Liminarmente não sentir
E o pressentimento, o materializar da premonição!
E o sonho que se fez vivo, como se o teu espírito voasse
Entrasse em mim e me comunicasse…
Vou partir, vou-me ausentar, não há lugar para ti na minha vida!

Sabia que bloquearias o teu mundo, que não me permitirias o acesso
Excluir-me assim, sem mais, sem justificações
Como se já tudo estivesse dito!
E a página fria, ausente, branca, num gélido paralisante!
É o pronuncio da ruptura que sempre existiu
Qual cisão escrita no cosmos, ou enraizada nos nossos corações!
É o dizer feito de nadas, insignificâncias, ninharias
Actos inúteis, gestos improfícuos
Brincadeiras de crianças, divertimento, reinação!

Assim és tu!
És o adeus por se afirmar
És o sufoco por expulsar
És o meu corpo frio
És o meu olhar distante
És uma ruga contumaz na minha pele
Mas foste em mim
Momentos de êxtase, encantamento
Qual doce e suave fel
Como se o Universo me estendesse o manto
E me trouxesse a missiva
De uma folha em branco!