País das maravilhas

Tirem o trema da palavra,
tirem da vida qualquer escada.
Tirem do livro as páginas!
Não declamem poemas às claras!
Livrem-se das rimas. Economizem mil linhas e ditados.
Privem-se de qualquer prisão e estigma!

Andem todos sobre a mesma via! Rezem o terço e vão como todas as Marias!
Ridicularizem as convenções, firam a Língua!
É mais fácil xingar...

Criem outro paradigma para a descrença.
Rezem o rosário do "me dá" e chega!
Chamem os ladrões à porta!
Votem no capital da onipresença digital!

Ponham livres os bandidos,
ocultem na lei o livre arbítrio das alianças.
Chamem a anarquia dos mercados, dos preços e produtos sabotados!
Fechem as escolas, comprem mais igrejas.
Tirem o salário dos professores e a esses que o santo deus proteja!
É hora de gritar
Asilo aos patriotas.
Abrigo aos anjos marmotas...

Ponham as chaves sempre ao alcance do leigo bajulador, do esperto salteador, do esbanjador de esmolas.
Jurem amor aos banqueiros e aos juros, aos homens da bandeira e das promessas além dos muros,
Fomentem a impunidade, congressem os bens da sociedade!
Revelem ao néscio os cofres e dêem-lhe todos os seus segredos!

E toda a mudança trará novidades...
Uma nova luz brilhará até que, enfim, se apague.
Será assim em toda a cidade e todo o país.
Esquecidas quaisquer lembranças.

E quando a luz se apagar, a vida não suportar mais o medo, tentem mudar para outro lugar, em sonho ao menos; Onde ainda irão te aceitar.

Falem baixo! Só lhes peço isso, falem baixo o nome deste lugar.

Por quê?

Porque Alice pode acordar...

Durma, durma, Alice!