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Patos de Minas

Debruçado sobre a pedra de pã,
Dormindo de boca aberta, que mazela!
A miuçalha alquebrada pelos ventos informes,
Do cípreo irreverentes navios, cortina erguida,
Aparece cogitabunda beldade.
Invade do fumeo gosto, gestos audazes,
Deste simples verso-prema, como kunti do Rei Pându.
Deste meu ser a flama inflama, pura deleita de prazer.
Revigora-se o estro, que minha visão retruca,
Prístinas informes dunas meu olhar acalenta,
Desta ilha deserta,
Beldade, o cípro, como dantes o conheci,
Meu último suspiro como primeiro,
Meu primeiro como o último,
Acordo dormindo, e dormindo penso,
Minha cidade natal, ai... ai... Eia!
Se lá eu morasse e Maya não existisse,
Exortaria Lila a brincar comigo.
Cidade dos gênios ousados, um só que desta Prakrit fuja,
Audáz ele contamina sem saber,
todos em toda parte.
Patos de Minas é o último refúgio desta Mahat-tattva,
daqui e de nenhum lugar.
Reflua ó meu ideal bendito,
Como num rápto de amor,
Nos remidos deslizantes,
Porém, ameno e brando, voa sereno meu despertar,
De Patos ao Maharaj da antiga Índia meu canto.
Que meu prazer viaja afeleia e mata.
Conduza-me a um leve e plácido êxtase,
Como uma harmonia oculta e oceânica,
Que relembra Heráclito, Tagore ou o céu.
E me leve de mansinho, transportado ao léu.
Voa meu pranto;
Voa incólume e eternamente!...
De lápis lázuli devereis cobrir-te.
Meu pranto é meu alento,
Toca ó alaúde ó harpa,
E em leves oitavas me eleve ao som ao om.
Fuge a dolorosa alcôva,
Em que a escuridão tresvaria.
Cuidado, fale baixinho eis um hino,
Eu bem quisera ser comum, mas por ter,
Nascido aquí ou seria louco ou divino,
Patos de Minas, silente, bendita, esguia,
Caminha leve, nascedouro e sacrário,
Me eleve um dia muito distante iluminado à campa.

John Eber - inverno de 2011, momentos antes do pôr do sol.

 

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quarta-feira, maio 25, 2011 - 17:40

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