POEMA PERDIDO

Poema Perdido

Alguns versos mal traçados
perderam-se no universo,
procurando quem os quisesse.

Sua poetisa rabiscou-os num
velho e rasgado papel jornal,
como sintoma da sandice
que lhe aturdia as idéias.

Depois os largou ao léu,
olvidou-se das crias suas,
tortas estrofes sem ritmo,
e restou pelas alamedas
a vagar com olhos mortos.

E os versos perdidos e abatidos
com a precoce rejeição,
foram rolando de rua em rua,
buscando um par de mãos que,
ao menos, afagos lhes dessem.

De tanto voejarem
céleres ou vagarosos,
ao sabor de ventanias
ou brisas suaves,
ousaram pensar
que alguém os lia.

Os versos solitários e alienados
anseios tépidos sentiram...
O corpo de seu texto de
desejos estremeceu,
afogando-se em ilusões etéreas.

Se algum ser os lia verazmente?
Ninguém dizer saberia...
Mas o poema perdido,
na ausência da companhia almejada,
continua perambulando
por ruas, avenidas, praças e rodovias...

Com seu sonho dolente,
suas estrofes dementes
e seus versos misturados,
o poema perdido transmudou-se
numa única frase:
“É a ti que anseio entregar-me”.