"Prece"

A ti senhora te chamo,
arrasto de mim o jacto
e deposito na minha lápide
uma humidade tenebrosa
de só pretender o teu pente.
O meu cabelo arrasta-se longe.
De alfinete de menina, a agulha adolescente
sou uma forma de estilete
que no ar se arranha e chove.
Senhora!
Tu que atravessas portos de tempestade,
esgatanhas a cara dos mostrengos
que te colhem de machado e ancinho,
assaltas os ventres dos mentecaptos
que te estalam inertidades,
fala-me!
Diz-se se fede esta cabeleira,
se há pente a correr nele,
se está liso, mole ou apenas
é refugo de pasto
que nem os animais da planicie irão cheirar!
Senhora!
Tu que aumentas a sombra e lhe dás luz,
resgatas do subterrêneo o diamante,
dás a comer aos assassinos do tempo
a espada da âncora. Tu que ainda sonhas
depois de nua e ferida
só porque sabes
que também no sal há vida.
Conta-me!
Desfere em mim a sentença...
pois que desasada mais não ficarei.
Somente cortarei as penas mediamente,
pintarei de outra cor as patas.
Senhora...dizei pelo amor
que vos tendes
onde estou eu
com este cabelo espesso e largo.