CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Síncope
Agora que destes olhos não saem lágrimas, nem entra luz
Pareço agir com a perda dos sentidos como em favor ao som abafado de minha mente interrompida.
Agora que vejo o que não posso ver, sinto necessário o grito em desespero de um estranho desejo de viver.
Pois é tarde e de modo novo, lamento.
Lamento pois, por estes meus amigos rodeando meu corpo,
Por estas pessoas cujo nome de algumas posso dizer.
No embalo das notas cochichadas, posso rebater a saudade maior daqueles cujo nome não posso dizer.
E enquanto endureço a carne, sinto a fome do vizinho
Um sem saudades a lamentar, sem amigos a cochichar ao redor de si.
A aguardar a hora de ir para um lugar dstante e isolado.
Disse-me, antes da síncope: "Vou morar naquele lugar; aquele lugar de que te falei. Lembras?"
Como podia eu lembrar, se nada falou senão um: "até lá"
-Até lá? - me perguntei - onde?
Onde será este "lá"?
O pobre ainda está aqui, nem me olha, o coitado.
Está com a cabeça para cima, os olhos congelados, mirando o ponto por detrás da luz, não piscam, do mesmo modo que os olhos que o miram de detrás da luz.
Nem se move, o indigente. Antes de todos correrem para o mesmo lugar, estava lá, parado.
(Lá! Acho que agora entendo. Lamento por entender tão tarde, meu pobre amigo.)
Eles me cercam, me observam... Sinto-me bem, mesmo sem haver forma de mostrar-lhes com clareza.
Sinto a beleza da moça ao tocar minha mão e toco o infinito quando me pede para acordar... tem tanta intimidade na fala... se eu pudesse, declamaria um poema de um poeta imortalizado.
Como não posso ler nem falar, guardo a sensação e a impossibilidade de mudar este meu estado em outro lamento.
São tantos lamentos. A síncope agora parece irreversível. Senti um desconforto maior desde o começo. Achei que estaria enganado, como estive por tantas vezes. Apertam o meu peito. Os gritos com o meu nome, a enfermeira se afasta... os amores, os desencontros, descobertas vão juntos.
Eles, estes conhecidos, parecem lamentar por algo que não terão mais. Pederam a companhia de alguem eleito por eles ao cargo de especial. Não me sinto especial estando na solidão de agora.
Se eu pudesse, eu diria o quão especiais estes meus amigos são para mim.
São tantos lamentos.
Poderia ser diferente.
Poderia morrer velho e feliz, como querem os romancistas do mundo ideal.
Poderia ser feliz. Viver e morrer feliz em algum sempre sem importancia
Entretanto, jovem e sem volta, foi a escolha certa.
Poderia ser menos cruel.
Um homem com alguns anos a viver que morreu cedo.
Simples e sem dor. Assim foi.
A síncope permitiu que eu visse o que não via: o homem anônimo, a incerteza, a busca, a certeza. O meu vizinho, um faminto pela vida. O amigo cujo nome não sei dizer.
Diz estar lá. O nome do vizinho é amigo e dos meus amigos, vizinhos do amigo que acaba de morrer.
Submited by
Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 2042 leituras
other contents of robsondesouza
Tópico | Título | Respostas | Views |
Last Post![]() |
Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Meditação | Profunda ida do dia | 3 | 709 | 02/21/2010 - 12:28 | Português | |
Prosas/Pensamentos | Vício de um sonâmbulo | 2 | 1.144 | 02/21/2010 - 01:51 | Português | |
Poesia/Tristeza | FALTA | 2 | 966 | 02/20/2010 - 15:01 | Português | |
Poesia/Geral | Rinite | 1 | 684 | 02/18/2010 - 22:20 | Português | |
Poesia/Dedicado | Fixação ladeada | 3 | 696 | 02/18/2010 - 17:05 | Português | |
Poesia/Tristeza | Inverno fixado no desconforto das altas temperaturas | 5 | 582 | 02/17/2010 - 15:51 | Português | |
Poesia/Geral | Pensamento cardíaco | 3 | 876 | 02/16/2010 - 18:35 | Português | |
Prosas/Contos | Descontos carnavalescos | 1 | 1.063 | 02/15/2010 - 16:54 | Português | |
Poesia/Desilusão | Tivesse eu a capacidade de desistir... Desistiria! | 3 | 879 | 02/15/2010 - 05:49 | Português | |
Prosas/Pensamentos | Predileção | 1 | 629 | 02/14/2010 - 00:37 | Português | |
Poesia/Desilusão | A vida corre para um rio chamado morte | 3 | 934 | 02/13/2010 - 23:00 | Português | |
Poesia/Tristeza | Empenho solitário | 2 | 1.021 | 02/13/2010 - 22:59 | Português | |
Poesia/Amizade | Real teor das inquietudes mundanas | 0 | 1.282 | 02/12/2010 - 15:08 | Português | |
Poesia/Dedicado | (Meu) Egoísmo | 4 | 776 | 02/12/2010 - 13:48 | Português | |
Poesia/Tristeza | Interlocução | 4 | 713 | 02/12/2010 - 03:27 | Português | |
Poesia/Dedicado | Poema de uma palavra só | 3 | 653 | 02/11/2010 - 15:10 | Português | |
Poesia/Geral | Desço | 2 | 518 | 02/11/2010 - 01:54 | Português | |
Poesia/Tristeza | Poema cativo em uma tarde nublada | 4 | 2.374 | 02/10/2010 - 19:06 | Português | |
Poesia/Meditação | Um novo ar | 4 | 751 | 02/10/2010 - 18:42 | Português | |
Prosas/Outros | Letargia | 1 | 1.189 | 02/10/2010 - 14:02 | Português | |
Poesia/Amor | Há um motivo para tudo que faço e desejo | 4 | 765 | 02/09/2010 - 18:10 | Português | |
Poesia/Tristeza | Cadência | 2 | 689 | 02/09/2010 - 17:39 | Português | |
Prosas/Tristeza | Texto feito a contragosto | 2 | 1.038 | 02/08/2010 - 10:54 | Português | |
Poesia/Desilusão | Orvalho parado numa pétala | 3 | 691 | 02/07/2010 - 16:18 | Português | |
Poesia/Geral | Versa a Prosa, Poesia. Prosa Versa Noite e Dia | 5 | 1.513 | 02/07/2010 - 16:07 | Português |
Add comment