Sanidade

Aqui,
Com o olhar vidrado através da janela,
Num impasse dividindo placas tectônicas,
Num estado de idéias catatônicas,
Eu me transformo.

Porque quando todos vão embora,
Me restam as paredes e suas sombras,
De coelhos até borboletas, pavão
Ou puro medo.

Eu sou um Adão do barro de um livro;
Me faço vivo a cada personagem que enfrento…
Que ainda que escrevesse o verso eterno de Deus,
Minha pena, minha vida, escreveria sempre o primeiro e último capítulo
- Aquele, que desce a serra,
Que se completa
Com a caminhada.

Eu sou a Renascença do trabalho já perfeito;
O abstrato escrito sobre a placa (tectônica) de concreto,
Eu sou a mão, a pena e o papel
Eu sou a mudança, a ciência Exata do Universo.
Eu
Não sou nada
Além de um ser de alma,
Algemada a cores,
Odores, sorrisos…
Um peixe espada no abismo de gelo
Uma estocada ardente feito fogo
Um “bom trabalho” dito por um amigo…
Um sorriso breve, embora pão.

Eu sou,
E me descrevo
Minha própria alma oceânica
Pra criar desapego
Do mundo são.