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Sem título(19)

Tem o mar a cabeça no vulcão

E as mãos do céu são árvores plantadas no granito

Meu corpo é a marmórea coluna erigida no oceano

O canto do sangue é sémen e óvulo frutuoso

O mundo masturba-se ingloriamente

Onano e mênstruo na fúria do não querer

Tomo o trovão sem relâmpago

Acosto a nau no oásis

Faço saber porque não quero a palavra azul

Tenho em minha paleta

Outras cores

Outros céus

Copulo o céu por entre as tuas pernas

Dentro de ti pode estar o céu

Dentro de ti

Ou por dentro de ti

Eu fico entre ti e o firmamento

Dentro de ti prenhe das tuas cores de luz

O sol de desertos

A máquina da luz

Fico cego de não saber tactear

Insensivelmente digital

Até á mais alta cegueira

Agora cheiro o teu sexo

Agora falo a mesma língua do teu sexo

Sabes saber esventrar-me

Sabes saber com luz

Troco o reino

Troco o cavalo

Troco tudo

E troco-me por ti

Projecto a vaga mais alterosa

Colo a vaga na nuvem

Por de traz da nuvem

Por de traz de ti

Animais únicos

Fusão nuclear

Revirado mundo

Insinuas-te inteira por dentro de mim

Adornas meu íntimo

Pintas-me com o superlativo de ti

E eu fico a saber a belo

E até a pedra maior do mundo

Flutua no mar de dois seres

E até a pedra magnífica se faz leve

Paira no éter a pedra da vida de nós dois

De nós assim como juntos e uno ser

Laços trocados por dois braços

Abraço a estátua

Preciosa e alva matéria

Escultura de transpirações

Pinto

Realizo a escultura

Escrevo o possível poema

Sem saber nada saber fazer

Confio claramente

E cerro meus olhos

Pra confiar definitivamente

A máquina da luz é do teu comando

O sortilégio da vida

O acaso da minha escrita

São a sorte e o acaso da tua existência

Não sei dos teus lugares

E na visão intima das coisas

Revelas-te

Como mais depressa és ausência

Na saliva em metal aquecido no ventre da terra

Agora és o movimento e a cor

E sendo assim eu já nem sei

Se és mais que o Todo

E tudo não é bastante em ti

Se quiser falar do

Caminho da minha paleta

Eu digo:

Sou do percurso

Entre basaltos e alabastros

E sei a evidência

Do círculo cromático

Tu fazes o necessário arco-íris

Entre as duas rochas

Fazes a ponte da cor no meu olhar

Nascida és antes da escuridão dos tempos

Depois da estátua de alabastro feita pó

Seguirás como sendo eternidade

Profeta em tua própria profecia

Ouso pintar a tua canção

Com palavras pagãs

Outras serão as palavras

No dia maior da tua graça

Procuro em Alexandria

O teu exacto merecimento

E com as vestes e sabedorias

Da Grécia imortal

Vestirei as palavras encontradas

Encantadas

Depostas a teus pés

As palavras

E todas as indeléveis vontades

Por mim erguidas

Na espera de merecimento maior

Dionísio Dinis

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quinta-feira, fevereiro 24, 2011 - 19:46

Poesia :

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Dionísio Dinis

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