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Sem título(24)

Que não forcem sorrisos ausentes

Os dramas e seus efeitos eu declino

E a seiva dos olhos não cabe neste lugar

Tenho a boca de aurículas e ventrículos absorta

No rosto tomo a chapada de alegrias de sangue

No cérebro levo o corpo encarcerado

Almejo o horizonte inexistente

Nevrálgico ponto ausente da razão

Matemática coordenada da loucura


Cara a cara na fossa abjecta do opróbrio

Desquitado de ligeirezas e lisonjas

Prazer irredutível de ser contrário

Letra a letra

Em fonema caótico

Imperceptíveis palavras solares

Tragadas na tempestade narcótica

Ressaca violenta e acre
 

Cala-me agora o vento forte

São vozes nucleares audíveis na bonança

Invento um cântico de murmúrios lassos

O vento faz água o forte álcool

Tremor alucinado já desfeito

Frige ao sol a cabeça trepanada

Cirúrgico acto tresloucado


Pinto o chão de sangue e liberdade

De golfada em golfada

Gota a gota

A veia seca

O sonho pleno

Sei do lugar do repouso dos justos

No remanso do jardim das oliveiras

Dorme a paz no corpo do homem feito pássaro

Á sombra da árvore secular


Vou já lançado em órbita alucinante

Fugaz cometa em queda anunciada

Acordo o sono

Estatelo-me em sujo asfalto

Arde-me o sangue nas mãos quebradas

De tanto querer

E não desejar ter nada


Empilho a lenha na pira destinada

Meu sangue é querosene inflamado

Arde-me o corpo na vontade da partida

Alaga-me já o mar de cinzas enfeitado

Nem Fénix serei

Reencarnado ser jamais virei a ser

Enfuno as velas rubras do meu ser

Sigo a rota incerta sem regresso

Naufrágio anunciado em profecia


Dionísio Dinis
 

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sexta-feira, fevereiro 25, 2011 - 05:47

Poesia :

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Dionísio Dinis

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