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Sem título(57)

Escuto a chuva dos olhos do mundo

E de quererem ser mares são ínfimas as minhas mãos

Em todos os peitos dilacerados

Por todos os peitos negros de descrença

Eu clamaria p`la urgência da fábrica de corações ardentes

Das minhas mãos esmagadas pela ausência de outras mãos

Ainda tenho todo o fogo do mundo

O fogo de acalentar Invernos eternos de desamor


Retenho em mim imensas e impotentes tristezas

Inacções e desalentos alheios

Fatigo as pernas nos trilhos não ousados por outrem

Entrego meu olhar em penhor da minha verdade

Desnudo-me para melhor se entenderem

No mistério das claridades


Alimento-me de sol de lua e de mar

Deito-me de esperança na praia deserta

Faço-me de temperança entre tempestades e calmarias

Exibo o infinito querer por dentro do ínfimo ser

Disperso afectos ao desbarato

Sem conta e sem medida

Coração sem peso de mágoa

Fogo dado em escuridão alheia

Olhos de alma em sol nascente

 

 


Abjuro o vulgar em mim

Renuncio palavras pueris

Se eu disser:

Salve-se quem puder, salva-se quem

Pode ter a infinita graça de ter sangue nas veias!

Salvam-se poucos

Salvam-se os de muito querer


Pertences também aos eleitos

Salva és pelo teu próprio amor

Pela sublime vontade de bem-querer

Pela vontade do amor decantado


Se me falta som na voz

Ou palavras no poema desenhado para ti

Invento a floresta em sinfonia

Faço-te cama de alvas flores e frutos do bosque

Tela e papel do poema pintado corpo a corpo

Sangue suor e sémen efervescentes

Aromas e sabores na cor do poema

Desejos em tela decalcados


Agora contamos o nosso tempo

Em palavras de som e de cor

Grão a grão em todas as praias do mundo

Iluminas-me com a rosa cor de sol

E fazes do meu mar tua interminável viagem


Dionísio Dinis
 

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quinta-feira, março 3, 2011 - 18:57

Poesia :

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Dionísio Dinis

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