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Sem título(60)

Existe o dia das rosas sem cor

As rosas com fantasmas de sol nas pétalas

Existe o dia da rosa de cristal perdida

A rosa negada ou o inacessível amor

Existe o dia das gentes sem flores e sem amores

Existo em indistintos dias
 

Em todos os dias do amor esquecido

Lanço à terra palavras feitas húmus de esperança

Reinvento jardins olímpicamente suspensos

Semeio versos nos peitos ressequidos

Proclamo o superlativo das emoções

Projecto o desejo na voz do sangue vivo


Indefinidos são montante e jusante do rio de sangue

Redundante como eco

Soa a palavra rosa ou o seu significado

Creio apenas na exausta recorrência da palavra amor

Quando alto penso e declamo com visceral coração

Quando declaro singelamente: da cor da rosa

Do sangue dado como seiva germinal

Da pedra polida com sal e mel do meu ser

Da mulher com olhos de mar e sémen na boca do amor

Da minha boca de palavras cheias de sexo de mulher

De tudo isto e também das coisas do cosmos e da ameba

Do todo perecível do meu atómico saber

Somo a infinita ignorância que me preenche

Acrescento a perplexidade na visão da rosa transparente

No espelho duro das verdades trespassantes

No verso e reverso do diáfano espelho

Exercito o desmoronamento de erigidas convicções

Como se desse a preciosa rosa ao abismo de facas aguçadas

Como se achasse em cada pétala sangrante

A elevação da mulher à liberdade de amar

Como se fora eu o senhor de todas as libertações

Como se fora eu a mulher claridade

Escrava de trevas seculares

Como se fora eu causa e efeito do próprio amor

 

A rosa colorida de abençoado sangue

Qualquer cor na rosa sem cor

Qualquer pedra transformada em diamante

O adjectivo na palavra vulgar

O poema que hei-de saber fazer

O amor que está sempre quase a acontecer

A paciência que me falta pró queixume

O direito ao silêncio ou ao grito insubmisso

O louvar à Mulher em verso transbordante

 

 


 

 

 


De tudo e do todo que quero perturbantes

Contra a paz podre das morais reinantes

Farei a guerra santa da palavra

Com silêncios mais que sábios

De olhos dados às verdades penetrantes

Plantando a rosa em fecunda terra

Plantando a rosa da cor da rosa livre

Qualquer flor é livre nas mãos que se querem dadas

Qualquer flor amor…

Qualquer flor que seja até rosa de incerta cor

Qualquer desejo pode ser amor …


Dionísio Dinis

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quinta-feira, março 3, 2011 - 19:19

Poesia :

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Dionísio Dinis

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