SENTADO SOBRE UM MAR

Deixa-me servir-te um chá
na mais fina porcelana
e arrastar-te no meu corpo
ao sossego da nossa cama.

Vou levar-te ao meu jardim
desenhado neste peito
onde bate o coração
pelo amor que é perfeito.

Vou decora-lo a preceito
com perfume de jasmim
e acabar com esta chuva
de penas sem fim.

Vou cantar-te uma canção
numa voz desafinada
e sentar-me sobre o mar
na paisagem já usada.

No dia que se apaga
vou pintar o teu retrato
e no beijo molhado
celebrar o nosso pacto.

Pega no meu coração
que abandonaste neste canto
baloiça-te com ele na mão
e embala o meu pranto.

Bate a chuva na vidraça
que me separa do mundo
sento-me sobre o tempo
que não pára um segundo.

Tras de volta os teus sonhos
que guardaste numa mala
e alegra a minha vida
nesta rua que fiz sala.

Segue-me os passos
que trilhei neste caminho
vem sentar-te ao meu lado
não me deixes aqui sozinho.

Já esqueci as rosas negras
com que pintaste a minha estrada
já não lembro o naufrágio
desta vida ancorada.

Espera por mim a janela
vestida na tua pele
dá-me apenas o coração
nem que seja de papel.

Esculpi-te em areia
só para te abraçar
dei o grito que é só meu
julgando poder-te alcançar.

Vou levar-te ao meu jardim
desenhado neste peito
onde bate o coração
pelo teu amor... que é perfeito.