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TÊ SEM TRAÇO


Ouço a noite nua,
sopa crua num corpo mendigo.
Seres como rua vestida de silêncio.

Do breu ouço o tempo sem tempo,
o amor sem acção numa canção muda,
trova que desnuda os olhos em vontades sem força.

Estrelas como uma grande família
à mesa da madrugada insípida onde utopia
é um grito triste em que o passo já não confia.

Lua que rasteja nos olhos de quem sente o frio
como último agasalho ao orvalho da indiferença.

Envelhece a pele em cânticos
de lágrimas pela cara abaixo. Luar sem lugar na maré.

Mar que outrora fora mundo. Agora charco imundo.
Pântano em versos que se fazem ouvir quietos às pantanas.

Dinheiros como esperanças ratazanas.

Odores de dente imóvel
no esgoto das sociedades onde o egoísmo
defeca o excremento das almas prostitutas ao Diabo.

Mentiras como se bocas
fossem candeeiros de luz negra
e as mãos insectos tontos sem regra.

Sol como palavras
mumificadas em paraísos de juízos desertos.
Cactos sem senso. Corações abertos ao inferno.

Promessas larvas que consomem o amanhã
como se a vida de uma maça se tratasse.
Como se viver matasse o bem.

Maça de quem a ampulheta semeia as sementes
de dor na sua areia movediça como liça governante.

Ar em voo arrogante,
tapete sujo por poeiras humanas, dias
como chamas de bandeiras que ardem sem razão.

Fomes como caixão de nãos por sepultar.
Sedes como guilhotina que não cai
sobre o pescoço da maldade.

É a guerra a vaidade dos cobardes.
É a paz a arma dos corajosos.

Somos eternidade de tê sem traço.
 

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terça-feira, setembro 6, 2011 - 00:11

Poesia :

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Henrique

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