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A TEMPO DO TEMPO
Despedida que entoa à toa… Acordar.
O espaço e a distância em confronto tenro.
Orvalho que espanca… Saudade manca. Eterna.
Insónia que roça o corpo… Folhagem da alma.
O céu e a terra como lábios do tempo… Beijo tenso.
Canção em sombra pelo ar inacabado… Lado sem lado.
As nuvens a cara… A chuva as lágrimas.
O som do sonho como voz… O sono como passo.
Piano de flores turvas pelos bosques do crepúsculo.
O vento como braços em silêncio
que abraçam os olhos com movimento.
Tempestade oásis… Carícia sem dádiva… Fria.
A lua como ignição zero… Rompante.
O sol como pensamento vero… Bafo trepante.
Mecanismos opostos… Impostos reflexos póstumos.
O calendário como vinha
de fartos metabolismos… Verbo cataclísmico.
Os dias como veias… Caudal de candeias em labirinto.
Os milésimos de segundo
como sangue dissolvente num gesto inverso.
Organismo em labores de caos impreciso… Inciso.
A palavra como cor exacta… Sobressalto das pedras.
Vírgula espessa… Curva que desata… Langor em pressa.
Musa que ata o poeta ao mar… Poema de fogo onde jaz o chão.
A tempo do tempo.
Repouso das águas… Represa de beleza.
Perpétua estrada… A noite como árvore de solidão.
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