Venho de longe..

Venho de longe e escrevo-te...

Venho de longe, de um mundo longínquo onde ninguém me encontrou. Venho de longe e escrevo-te em folhas de céu inclinado e no sentido ascendente. Nunca gostei de linhas rectas. Escrevo-te nas filigranas dos universos perdidamente recortados por entre as noites desgrenhadas e em todos os cantos onde o luar se desenha. Sonhos imtempestivos e vidrados ficaram para sempre nos teus olhos. Á mercê de todas as correntezas. Invisíveis como as espigas da noite presas aos meus braços; e os sonhos continuam inquietos. Não tenho orgulho nas minhas lágrimas porque caíram em vão. E o silêncio tão banal já não me afecta.

Venho de longe. Sento-me nas ameias do meu castelo e escrevo-te. Nas linhas escondidas, numa doçura de olhar. Parte-se o silêncio. Desmonora-se. No mistério da noite. Perdi a minha voz rubra. Sempre sonante e embriagada de um prazer qualquer. O cântico da noite sufoca os meus passos caminhantes e inocentes nesta cidade tão morta e perdida de sensações. Tudo ausente. Continuo a escrever-te. Inquieta. Numa expressão rasgada que desfila solitária. Mas continuo a guardar nos olhos um resquício de luz e de liberdade...

Venho de longe e escrevo-te...