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A Criança, O Mundo e O Mundo Criança

   Ele. É ele, isso mesmo. Não interessa o nome, a idade, interessa apenas que é ele e é uma criança. O resto não existe, porque a identidade não mata a fome, não limpa um corpo na estação seca ou protege a pele contra uma picada do mosquito da malária, ou o cancro da pele provocado devido ao imenso buraco na camada de ozono, do qual é responsável ninguém (e quem poderia ser, afinal? Ele, ele bem sabe que não é, mas também sabe que as probabibilidades de sofrer por causa do buraco são grandes).
   Existe outro ele (e não vai ser preciso distingui-lo do primeiro ele). Hoje acordou preguiçosamente, de estar tão quentinho nos lençóis (ele acordou no Kalahari, estava com a família à procura de água e foram raptados por rebeldes). De seguida, gritou para a mãe que hoje não faria a cama, estava de férias (“Tenho medo”, disse ele amarrado ao colo da mãe, sob a ameaça de uma Fuzil Johnson M1941). Correu até ao ponto de encontro, já sabia que ia impressionar tudo e todos, e assim o foi. Quando chegou, toda aquela vasta variedade de jovens ficou fascinada com ele, com as sapatilhas tão desejadas por qualquer membro do grupo (e ele, que só desejava que o deixassem descansado, não se importaria de beber a água turva de todos os dias e de comer a sua carcaça de pão rija; nunca se importou).
   Os seus olhos foram vendados (ele caminhou pelo meio de todos, cego pela riqueza que possuía). Todos foram fechados numa cela de paredes em cimento, dois por três metros (ele chegou a casa, atirou os sapatos para o meio da cozinha e correu rumo ao quarto, onde pensava estar a sua consola de jogos). Cinco pessoas, cinco dias e cinco noites, sem que comida aparecesse. O chão já não existia, multiplicavam-se as moscas doentias e doentes pelo cheiro, o cheiro a pessoas e aos restos que já não são seus nem da terra, são restos e nada mais.
   Nessa noite, ele foi jantar com os seus pais ao restaurante mais fino da cidade. Nessa noite, seria a última noite que ele aguentaria sem jantar. A sua mãe tirou-lhe as espinhas ao peixe, que ele tanto protestou em comer. No final, acabou por conseguir o que quis. O peixe passou para o prato da mãe e o pai pediu um prego no prato para a criança. Ambos estavam felizes em ver o filho contente. Mas, nesse momento não estavam ambos felizes, porque o filho lhes tinha morrido nos braços.

   Se ele e ele são realmente o mesmo pronome pessoal, porque não tratá-los exactamente da mesma forma?

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segunda-feira, fevereiro 28, 2011 - 12:46

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JoaoGil

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