Dias de tango

Um par de sapatos sem par nos outros sapatos. A espera do ombro para pousar a mão, a mão na outra mão que deverá obrigatoriamente estar morna, aguardando o sinal levemente apertado para se começar. Uma 4ª montada significa já a espera, um intermeio da 1ª e 2ª, que a perna afastada, demarcando o território leva na biqueira deste Tango uma elipse desajeitada, manca pois, que a outra biqueira está ausente. De que serve flectir adiante se a inflecção de cabeça desnuda um pescoço sem amparo, sem ponto de mira, sem o roçar dos olhos?

Que interessa o voile negro e longo se não embate nos passos defronte, a palma que desliza na cinta, o aconchego de puxão, a cera do sobrado riscada no estilete do salto, no tacão a impôr vontade...

Ainda espera, que esta imagem no chão da sala de baile só reflecte um.

E o Tango é para dois.