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A Ditadura do Tesão
A DITADURA DO TESÃO
Jorge Linhaça
Observo as pessoas que passam por mim num desses points badalados, num desses barzinhos que são a coqueluche dos solitários.
As mulheres vestidas com a intenção explicita de seduzir, destacando o mais atraente de suas formas...decotes audaciosos, roupas justas, maquiagem perfeita, sorriso constante, perfume sensual...
Os homens com suas roupas bem alinhadas, seus olhares a devorarem os corpos das mulheres, seus drinks inacabáveis, sorrisos maliciosos, fazendo pose a cada gesto...
Caçadores e caçadoras de emoção, espreitando na penumbra do ambiente a sua presa da noite.
Não vejo, em meio à multidão nenhum sinal de que alguém esteja ali em busca de algo mais duradouro, todos tem estampados em si a face do desejo, da procura de uma noite de prazer sem compromisso, que se baste por si mesma.
Tudo bem, sei que algumas e alguns de vocês irão protestar, “ Eu saio apenas para me divertir...se rolar rolou...” Ah, essa doce hipocrisia humana, ninguém sai de casa sozinho, esperando voltar do mesmo jeito, todos querem ter uma história da qual se lembrar e sobre a qual comentar, sejam homens ou mulheres...
Vivemos numa verdadeira ditadura, perpetuada pelos folhetins, pelos papos de segunda feira, pelos “causos” contados por nossos amigos e amigas.
Ninguém quer ser o cara ou a mulher que não “pega ninguém”, ninguém quer ser o “certinho” da turma...todos vivemos sob o signo do tesão amplo geral e irrestrito.
Encaramos o tesão como uma anistia para as nossas inseguranças, como um paliativo para a falta de um amor real, buscamos no corpo dos parceiros eventuais gotas de uma felicidade da qual fugimos, embora insistamos em dizer que a buscamos.
Voltamos para nosso refúgio com um sorriso nos lábios, como um caçador que traz do safári mais um troféu. Descobrimos no dia seguinte, que a única coisa que temos para provar que “amamos” são algumas marcas no corpo, lembranças de um prazer transitório com alguém que provavelmente jamais voltaremos a ver, alguém sem história, do qual não sabemos nem mesmo se o nome era real.
Vivemos a ditadura do tesão anunciado. A ilusão fugaz de que somos irresistíveis.
Vivemos a insanidade de acreditar que isso é a mais pura expressão da liberdade, que podemos fazer o que quisermos, quando na realidade nos tornamos escravos dessa roda viva, dessa inconstância emocional.
Perdemos a noção do tempo que passa incólume, deixamos de viver o amor, deixamos de nos dar a oportunidade de ser realmente felizes. Substituímos o companheirismo, a constância, a troca de sonhos e construção de uma relação, pela cumplicidade momentânea, pela inconstância, pela ilusão do prazer momentâneo.
Trocamos nessa casa de câmbio a moeda do amor, pelos níqueis do tesão.
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