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Em espiral
A claridade, que os estores do meu quarto deixam passar, diz-me que as duas e meia que marcam os ponteiros do relógio da cabeceira já são da tarde.
Hoje é sábado. Está um frio de rachar lá fora. O quarto está gelado e estou indeciso entre a coragem de me levantar ou a vontade de me deixar ficar. Olho em volta e relembro a noite longa de insónia que passou. Vejo o candeeiro que ficou aceso. Um livro aberto pousado ao meu lado. No cinzeiro, cheio de cinza e pontas apagadas, vejo um maço de cigarros amarrotado.
São quase três da tarde. Decido me levantar. Arrasto-me até ao chuveiro e enfio-me debaixo da água. Demoro até me sentir completamente refeito do choque térmico, e no meio do nevoeiro causado pela elevada temperatura da água, tento vislumbrar-me ao espelho. Acabo por desistir, a vontade de me olhar olhos nos olhos também não é nenhuma.
Agasalhado, saio de casa depois das três e meia, decidido a ir até à praia.
O mar exerce em mim uma atracção que nunca questionei. Funciona como um refúgio. Um refúgio imenso, aberto e infinito.
Está frio, mas timidamente o Sol aparece, e os poucos raios, que conseguem furar a espessa camada de nuvens que cobre o céu, trazem algum calor e conforto à minha alma atormentada. A contemplação de tão bela atmosfera faz-me sentir em paz. Infelizmente por pouco tempo.
Sou despertado pelo empregado da esplanada, que me devolve à realidade. Não sou capaz de comer. Peço que me traga apenas um café e acendo mais um cigarro.
Um turbilhão de pensamentos assola-me. As minhas angústias, as minhas memórias, os desafios que não sei se anda vou conseguir ultrapassar. E tento carregar as minhas forças com o calor ténue do Sol.
È o primeiro Natal. Tenho que me conformar, mas ocasiões festivas como esta, não me deixam seguir em frente. As memórias vêm com maior intensidade, e consomem-me a pouca vontade que tenho de viver.
As horas vão passando, e não consigo tomar nenhuma decisão. O Sol começa a pôr-se. Penso se ainda manténs o fascínio pelo pôr-do-sol. Foram tantos os que celebramos juntos.
Levanto-me e decido caminhar pela marginal. Os candeeiros da avenida começam a acender e eu lá continuo, acompanhado apenas pela minha sombra. Vagueando.
Determino que hoje é dia para tomar decisões, e a primeira é fazer uma viagem. Vou para longe nesta quadra. Volto só no início do ano. Cheio de energia e com vontade de começar de novo. Do nada. Sem nada. Sem ti. Quando voltar logo se vê.
Talvez esteja apenas a fugir uma vez mais à realidade, mas alguma coisa tenho que fazer. Tenho que deixar de ver os lugares onde ainda te recordo, onde ainda somos. Se calhar esta é a minha maior certeza, extraída deste dia de decisões. Tenho que te deixar.
Orgulhoso da decisão, meto-me no carro e corro para espalhar a notícia. Os meus pais ficaram calados. Estavam a contar comigo para a ceia. Acabam por concordar, resignados, vendo o meu entusiasmo, e esperançados que seja desta. Querem o melhor para mim, foi como se despediram nessa noite, depois do jantar.
Deitei-me cedo, e preparei-me para mais uma noite de insónia, determinado a escolher o destino da minha viagem. Fui relembrando e eliminando todos os lugares que visitamos juntos, em férias, em viagens de trabalho que aproveitamos para nos acompanharmos um ao outro, sempre. Eliminei também todas as viagens, todas as férias que nos prometemos fazer um dia. Dei comigo quase sem destinos possíveis. Nós que tanto gostávamos de viajar, que tantos planos não nos cansávamos de fazer. Adormeci sem destino escolhido.
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Comentários
Re: Em espiral
Mais um excelente texto que encontro no WAF! :-)
Re: Em espiral
Hummm!!!
Alucinante viagem...não deixa adormecer!
Beijo
Re: Em espiral p/ MariaTreva
Hummm!!!
Ainda bem que viajaste, é gratificante saber que provoco esse tipo de sensações.
Obg pelo teu coment. :-)
Beijo.
Re: Em espiral
Que belos candeiros... e acordar às 3 da tarde!?
... Já percebi porquê... coisas de vida, tão bem registadas, aqui.
Sóbrio e sentido.
Um abraço
Re: Em espiral p/ Andarilhus
Obg pelo teu comentário.
Fico satisfeito que tenhas apreciado.
Abraço!
Re: Em espiral
Uma espiral "descendente" que leva ao abandono de seguir uma decisão.
Gostei de ler.
Bjs
Re: Em espiral p/ MariaSousa
Fico contente que tenhas gostado.
Curiosamente comecei a escrever prosas antes de tentar poesia.
Apesar de serem registos diferentes, onde achas que me saio melhor? Qual te dá mais prazer ler?
Obrigado pelo teu comentário. :-)
Beijo.
Re: Em espiral p/ MariaSousa
Olá,
Pessoalmente gosto mais de ler poesia. Gosto mais de te ler em poesia.
Bjs
Re: Em espiral p/ MariaSousa
Olá,
Obrigado pela tua opinião. É um grande incentivo.
Beijo.