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"ENSAIO PARA A TRISTEZA"

A tua patinagem é artística, a minha atabalhoada, própria de alguém que sempre aprendeu a manter o equilíbrio, apesar das cambalhotas iminentes. Nada melhor do que cair… para nos levantarmos! A indiferença é uma espécie de pedra maldita, que nos atinge a alma e nos fere. Por isso… sinto muita vez necessidade de revestir-me dessa indiferença, como se fosse o capuchinho vermelho a fugir ao lobo mau, na selva. Por mais que me sinta confusa e triste, olho em frente, como se fosse uma criança sentada na areia da praia a olhar o mar, com medo do barulho das ondas. No entanto o mar é a minha sepultura. É lá que me reencontro, quando esbracejo nas suas águas gélidas, com a mesma determinação com que ele um dia me quis roubar a vida, como se me chamasse para as profundezas do seu céu! E depois… há as consequências mais evidentes. Há muito que deixei de ser criança! Ou será que nunca o deixarei de ser? Fico-me pela ambiguidade das respostas, porque se há momentos em que rasgo a terra seca com as mãos, para que ela me devolva as flores que eu tanto amo, outros há… em que me sento nela, com o desânimo que sempre me atingiu quando era pequena, sempre que caía e rasgava os joelhos. A minha mãe lembra-me ainda hoje, que quando eu era criança, passava a vida a tropeçar e a cair no chão. Ainda hoje guardo nos joelhos as cicatrizes dessa minha "triste" tendência! Os pensamentos baralham-me... Acabo atordoada como se o vento os volteasse, num remoinho momentâneo. De repente… penso em ti, em nós… no que fomos e somos, e doí-me a alma! O que é feito de nós? Sinto as palavras chicotearem-me violentamente a alma, com a mesma desumanidade com que foram barbaramente chicoteados, os escravos em Angola, em tempos áureos, que tanto envergonham a história e as nossas consciências. Tu... que eras uma acérrimo defensor da descolonização, que falavas das injustiças sociais com a doçura dos poetas, diz-me... que fizeste aos teus ideais? Porque te transformaste nessa coisa deprimente que te leva a ser indiferente a tudo quanto te rodeia? É esse o muro gigantesco que nos separa, sabias? Oh... apetece-me questionar algo que me atormenta consecutivamente: - Porque me faço refém dos meus próprios pensamentos? Que tipo de masoquismo é este que sempre me acompanhou ao longo da vida? Penso em ti… penso em nós… e a saída mais não é do que os caminhos lamacentos onde te entretens a brincar, como se fosses um pardal enlouquecido! Para que nos agarramos aos ressentimentos se eles são como as urtigas que picam? A tristeza é um ensaio que se programa para que nos libertemos das mágoas sem deixar recalcamentos absurdos? Acho que as respostas se afundam nos lagos que se formaram nos meus olhos! As certezas foram aniquiladas pelo chumbo da tua indiferença e eu nem sequer me preocupo mais em procurá-las dentro de mim, porque me esvaziei de ti, como se agora… mais não fosses que um balão lançado ao vento, que foi esbarrar num penhasco longínquo… Vai... vai e não voltes! Sabes? Voar, voaste… Mas foi tão deprimente essa libertação de balão ziguezagueante. Ao menos, acompanharam-te as lágrimas de uma criança, quando resolveste voar sem destino? Voar... voaste! Essa foi a única forma de voares, enquanto eu continuo a agarrar-me às asas dos pássaros que se abeiram da minha mente fértil. Porque me invejas? Isto nem sequer é um dom, é uma sina...! Continuo a abraçar os sonhos com a mesma simplicidade com que as crianças constroem os seus castelos na areia molhada da praia. E tu? Porque te escondes nas sombras da malícia, se esse será sempre o caminho errado? Sinto vontade de saltar o muro que nos separa. Vejo-te através dos vidros que povoam os teus olhos inexpressivos e sinto vontade de fugir... No entanto, o muro está repleto de silvas e vidros quebradiços, e eu perco repentinamente a minha coragem despudorada. Ouço a tua respiração ofegante ao meu lado, como se quisesses roubar-me o céu que se estende num lençol azul, pelos meus olhos ávidos de novas descobertas... Deixa-me ir, escorregar e levantar-me depois! Eu preciso agora de outro sol. Ou quem sabe? Se das tempestades tropicais… mas sem ti! Vóny Ferreira

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quinta-feira, agosto 7, 2008 - 11:54

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Re: "ENSAIO PARA A TRISTEZA"

"A indiferença é uma espécie de pedra maldita, que nos atinge a alma e nos fere."
Fere aonde mais dói...sem dúvida. :-(
Adorei o seu texto :-)
De ler e chorar por mais.
Bjs

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Re: "ENSAIO PARA A TRISTEZA"

Obrigada Zizo, fico feliz com as tuas palavras. É bom quando nos apercebemos que a nossa mensagem foi entendida.
Um abraço!
Vóny Ferreira

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