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Federalistas, pica-paus, libertadores e chimangos

Paulo Monteiro

Cresci ouvindo histórias sobre a Revolução Federalista ou Revolução de 1893.
Meu bisavô Joaquim Soares da Silva (Quincas Duro), pai de meu avô materno, Álvaro Soares da Silva (Alvinho Duro), participou da Revolução Federalista na região de Cruz Alta. Depois que ele partiu minha bisavó compôs uma “décima”, que iniciava assim:
“Maldita Revolução,
O que vieste fazer?
– Levar os pais de família;
Deixar as mães a sofrer”.
João José da Silva, pai de minha avó paterna, Corina José da Silva, costumava narrar aos filhos e aos netos a maneira como sobreviveu a massacre imposto a um grupo de pica-paus, logo após a Batalha do Pulador.
Essas memórias familiares levaram-me a estudar a Revolução Federalista, mormente os combates travados em Passo Fundo, onde nasci.
E é, em homenagem aos cento e cinqüenta anos de emancipação político-administrativa de minha terra natal, que transcorrerá no dia 28 de janeiro de 2007, e ao sesquicentenário de instalação da Câmara Municipal de Passo Fundo, a comemorar-se no dia 7 de agosto próximo, que publico este volume intitulado Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo.
Sou, fundamentalmente, um publicista, palavra portuguesa que melhor expressa aquilo que muitos traduzem como “intelectual público”. Por isso, a maior parte dos textos aqui reunidos é formada de artigos já publicados na imprensa passo-fundense.
Como não se trata de uma história da Revolução Federalista em Passo Fundo não entro em detalhes das causas e conseqüências daquela tragédia. Lembro, apenas, que, mesmo tendo trabalhos divulgados sobre esses elementos não os enfeixo neste volume. Aqui, me preocupo com os combates em si. Alguns deles, do ponto de vista estritamente militar, foram “tiroteios”; outros foram verdadeiros combates e dois, Três Passos e Pulador, pelo tipo de armas empregadas (Cavalaria, Infantaria e Artilharia), podem ser classificados como batalhas campais.
Entretanto, devo esclarecer rapidamente alguns termos usados ao longo do livro, quais sejam:
1. Federalistas, vira-bostas, gasparistas, maragatos ou libertadores, seguidores de Gaspar da Silveira Martins, organizados em torno do Partido Federalista. Daí serem chamados de federalistas. Opunham-se ao governo de Júlio Prates de Castilhos e, mais precisamente, à Constituição Estadual redigida por ele. Representavam o grupo (Partido Liberal) que dominou a política rio-grandense no final do Segundo Império. Lideraram a Revolução Federalista contra o governo do Estado.
Inicialmente foram chamados de vira-bostas, nome de um passarinho (Molothrus Bonairenses), que anda pelos currais, apreciando a companhia dos cavalos, apelido aplicado pelos republicanos aos seus adversários políticos, cuja principal arma era a cavalaria. Posteriormente passaram a ser chamados de maragatos, nome de um povo de origem berbere que habita as serranias de Astorga e Leão, na Espanha. Alguns maragatos emigraram para San José, no Uruguai. Doze maragatos ou descendentes de maragatos vieram com Gomercindo Saraiva, ao invadir o Rio Grande do Sul. Os republicanos, tentando passar a imagem de que se tratava de uma invasão de autênticos maragatos, passaram a usar o termo contra os federalistas, também chamados de gasparistas em referência a Gaspar da Silveira Martins. Como os próprios revolucionários davam às suas forças o nome de Exércitos Libertadores, também ficaram conhecidos como libertadores, nome que reapareceria nomeando os revolucionários de 1923.
2. Republicanos, pica-paus, castilhistas e pés-chatos. Os defensores do governo do Estado eram, fundamentalmente, seguidores do Partido Republicano Rio-Grandense, originado na Convenção convocada pelo Clube Republicano de Porto Alegre, em 23 de fevereiro de 1882. Com a Proclamação da República foi engrossado pela adesão dos seguidores do Partido Conservador (como é o caso da maioria dos “republicanos” passo-fundenses), adversário mortal do Partido Liberal, depois federalistas. Daí vem o nome republicanos, que lhes era aplicado. Para pica-paus há três versões diferentes. A primeira é de que se deve ao tipo de uniforme usado por algumas unidades oficiais, cujo quepe lembrava a cabeça daquela ave; a segunda é de que seria uma forma de menosprezo à infantaria republicana, pois pica-pau é sinônimo de taquari, espingarda de pequeno calibre, com um cano só, e de carregar pela boca, usada para caçar pequenos animais e a terceira de que alguns revolucionários ingressaram no Estado, portando os seguintes dizeres em seus distintivos:
Sete meses de ausência:
Pica-paus, tenham paciência...
O termo castilhistas é porque o Partido Republicano Rio-Grandense era capitaneado por Júlio Prates de Castilhos. Pés-chatos, recolhido por Ângelo Dourado, era usado pelos maragatos serranos para dar nome a seus adversários e deve-se ao tipo de calçado empregado pelas forças oficiais.
Em 1923 aconteceu nova revolução. Os antigos federalistas, com o nome de libertadores, enfrentaram os antigos pica-paus, liderados por Antônio Augusto Borges de Medeiros, que participou de ações militares em Passo Fundo, durante a Revolução Federalista. Pelo seu aspecto facial, Borges de Medeiros era chamado de Chimango (Ibyter Chimango ou Milvago Chimango), também conhecido como carrapateiro por comer carrapatos no lombo dos animais e caçar pintos e outras aves de pequeno porte.
É errôneo aplicar os termos chimango aos governistas de 1893 e maragato aos oposicionistas de 1923.
3. Lideranças que agiram em Passo Fundo. As principais lideranças republicanas que tiveram atuação em Passo Fundo, durante a Revolução Federalista, foram coronel Gervazio Luccas Annes, coronel Pedro Lopes de Oliveira (Coronel Lolico), capitão Francisco Brizola, capitão Eleutherio dos Santos, capitão Antonio Chachá Pereira e tenente-coronel Francisco Bier, todos exercendo atividades em Passo Fundo. De fora, atuaram coronel Manoel Joaquim Thomaz dos Santos e Silva Filho (Santos Filho), major Antônio Augusto Borges de Medeiros, coronel José Gabriel da Silva Lima (intendente de Cruz Alta), coronel Firmino de Paula e Silva (depois general honorário do Exército Brasileiro), coronel Salvador Pinheiro Machado e generais Francisco Rodrigues Lima e José Gomes Pinheiro Machado (senador da República).
Do lado maragato, as principais lideranças foram o general Antonio Ferreira Prestes Guimarães, os coronéis Veríssimo Ignácio da Veiga, José Borges Vieira, Pedro Bueno, Elizario Prestes, Francisco dos Santos Teixeira Vaz, capitão Theodoro Ignácio da Veiga, capitão Silvio Alves de Rezende. Com a coluna Gomercindo Saraiva merecem citação, o general Luiz Alves de Oliveira Salgado e os coronéis Aparício Saraiva e Ângelo Dourado, autor do clássico “Voluntários do Martírio”.
Por fim, quero agradecer a tantos quantos (e não são poucos) os amigos que colaboraram para meus estudos e a impressão desta obra. O lembrar nomes levar-me-ia a pecar por omissão.
Passo Fundo, novembro de 2006.
(O texto acima, agora revisto, serviu como Introdução a meu livro “Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo, Berthier, Passo Fundo, 2006)

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quinta-feira, agosto 6, 2009 - 23:27

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