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Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético
HEGELIANISMO – sob essa denominação agrupam-se as Correntes Filosóficas que herdaram o Sistema de HEGEL (1770/1831, Alemanha), que para muitos estudiosos foi o mais importante filósofo alemão após KANT (1724/1804). De fato, a contribuição de Hegel para o Pensamento foi monumental. E tão abrangente que pôde ser dividida entre tendências opostas, particularmente no Campo da Política, sem que perdesse sua validade.
Por isso, Hegel mereceu um adendo especial localizado no final desse dicionário, onde está exposto de forma mais detalhada seu Sistema. Todavia, vale acrescer, ou antecipar, trechos de sua Filosofia que foram encampados, principalmente, pelas Correntes chamadas de “Hegelianos de Direita” e “Hegelianos de Esquerda”.
Hegel, em sua obra tentou com tenacidade e talento reunir elementos que a principio são considerados antagônicos, tais como: Espírito x Natureza; o Universal x o Particular; o Ideal x o Real etc. Essas junções, pois, deram margem ao surgimento de seus herdeiros, como mencionado acima. Naturalmente que cada facção acolheu as teses que lhes serviam, como detalharemos a seguir:
1. DIREITA – compartilhava com a Esquerda o apego à idéia da Dialética e, obliquamente, com a noção da Realidade ser Racional, mas para valorizar as conquistas e as posses materiais adquiridas pelo trabalho físico, pratico; e não o “dos desocupados filósofos” que só debatem idéias abstratas que em nada contribuem para o “Progresso” do Homem – Para alguns, Marx apoiou essa visão quando disse que até então a “filosofia se ocupara em explicar o Mundo, agora deveria modificá-lo”. É obvio que Marx falou em sentido totalmente oposto aos dos Direitistas, mas alguns usaram esse fato para afirmarem a “incoerência do chefe dos vermelhos (sic)”. É um argumento que citamos “au Passat”, mas que não comentaremos por motivos óbvios. A Direita também abraçava a idéia de haverem “Seres Superiores”, como Deus, por exemplo, que gerenciavam o Mundo e os Homens, os quais lhes sendo obedientes (segundo a Moral conservadora) obteriam seus favores como, por exemplo, o “Paraíso” após a morte. Também se utilizavam dessa Metafísica para justificarem as diferenças entre as Classes Sociais e a “impossibilidade” de se alterar certos padrões porque “foram designados por Deus” (sic). E por serem de Direita, naturalmente eram Conservadores; logo, adeptos da idéia de “Ordem” e da idéia de “Estado” que seria a única Entidade capaz de assegurar o “Status Quo” que lhes garantia os privilégios a que se julgavam merecedores. Para a Direita o Estado era a manifestação perceptível, material da “Alma do Mundo”. A realização de Deus, que antes de tudo é a Ordem que se vê no Cosmo e não a desordem que se observa no Caos, onde todas as crenças, crendices e dogmas são questionados e até suprimidos. A divergência entre a Esquerda e Direita estava mais no CONTEÚDO do que na FORMA, pois também os Esquerdistas aceitavam a existência do Estado, embora em caráter provisório e que cessaria de existir tão logo a Sociedade pudesse se auto gerenciar. Os Direitistas, não. Propunham a manutenção perpétua do Estado como Aparelho, pois era quem garantia, como já se disse, a Ordem e a sequência de privilégios. E para que tal existência se mantivesse, eram favoráveis à criação e manutenção de Valores Sentimentais, como o Patriotismo, que pudesse iludir o inculto Proletariado, dando-lhe a falsa sensação de que fazia parte de algum “Todo”. De algo maior que sua vida medíocre.
2. ESQUERDA – teve seguidores de peso como Marx, Feuerbach, Lênin e mais alguns outros. Obviamente que se apossaram das teses mais “Revolucionárias” que previam a necessidade de transformações radicais na Sociedade, a substituição da Metafísica (ou do Sobrenatural, particularmente aquele de cunho religioso) pela Análise Racional da Realidade (ou do Real) material, concreta, histórica etc. A transformação do Saber Ideal e Especulativo (das idéias, intelectuais, mentais) em Ciências materialistas direcionadas à Natureza física, pois são elas que permitem – ou não – a evolução da Sociedade e do Homem. O intitulado “Socialismo Cientifico”, originado pela própria Dialética1 Social. Para a Esquerda, a igualdade (ou Identidade = condição de idênticos) entre o Real (a Realidade) e a Razão (o racional) é indubitável e inquestionável, pois se assim não fosse, o Raciocínio não conseguiria compreender a Realidade. Questão elementar de coerência lógica. Por isso, todas as Manifestações do Real são “necessárias”; isto é, não poderiam ser diferentes do que são. Opor contra a Realidade um “deve ser”, ou um “deveria ser”; ou seja, tentar opor contra o Real, outras características, normas, ideais, sonhos, desejos, esperanças às quais ele não se adequaria seria enxergar o Real NÃO com a Razão, mas apenas com o intelecto, com as aspirações humanas, que são, essencialmente, mutáveis, efêmeras e finitas. Seguindo tal lógica, vê-se que se a Realidade é “apenas” Racional, NADA existirá além da mesma. Toda Metafísica será apenas uma ilusão, inclusive a Religiosa que para os Marxistas só servia como instrumento usado pela Burguesia para amedrontar o Proletariado tornando-o mais maleável aos seus interesses. Também é preciosa para a Esquerda, a idéia de que a Realidade é Racional porque então “bastaria” mudar o Raciocínio (a mentalidade do povo) para modificar o Real de forma revolucionaria.
“O Mundo só mudará, se mudarem antes aqueles que o formam. Jargão político que foi muito usado na década de 1970, inclusive no Brasil”.
Para alguns estudiosos, a divisão do espólio de Hegel teve mais um participante: os Neo-Hegelianos italianos, que adotaram a parte da filosofia do mestre que admitia ser a História NÃO um relato dos fatos ocorridos, mas SIM um plano da Providência Divina, onde certo “povo vencedor”, quando chegada a sua vez, encorparia, encarnaria o próprio “Espírito do Mundo”, ou a “Auto-Consciência”, ou Deus. Quanto aos demais pontos, comungavam com a Direita, ou com os “velhos hegelianos, como também eram chamados.
1. Sobre a Dialética de Hegel, Marx fez a seguinte adaptação:
Tese = Feudalismo, no Passado.
Antítese = Capitalismo, no Presente
Síntese = Socialismo, no Futuro.
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