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Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético

HERACLITISMO, HERÁCLITO, DEVIR – “nenhum Homem se banha duas vezes no mesmo rio. Na segunda, ambos estarão modificados”
Essa frase de Heráclito (séculos VI e V AC. – Éfeso) passou para a História e ainda hoje é utilizada por todos que possuem alguma cultura.
Com ela, Heráclito, um dos principais filósofos “pré-socráticos”, resumia seu Sistema de Pensamento que se baseava na tese de que: SE tudo muda, a única coisa imutável é a própria mudança.
Minuto após minuto, a “mudança” existe e perpetuamente opera, transformando tudo que existe; quer seja material, quer seja imaterial, como, por exemplo, as opiniões, os sentimentos, os juízos etc.
É uma tese difícil de ser contestada, mas outro grande sábio “pré-socrático” o fez. Parmênides (c.544/450 aC.), nascido em Eléia – por isso chamado de um dos filósofos eleatas – foi o autor da contestação, alegando que as Mudanças existem de fato, mas que esse DEVIR1 atinge apenas os fenômenos (o que é perceptível em cada Essência), o material, o superficial; e não as Essências dos respectivos fenômenos. Também é outra tese difícil de ser rebatida e esse confronto tornou-se um dos mais célebres na História da Filosofia.
O nome “Heraclitismo” abriga diversas doutrinas inspiradas nessa filosofia, que em resumo propõe:
1. Existe uma Mobilidade Universal (ou seja, tudo muda, transforma-se, modifica-se).
2. É impossível manter um discurso, ou defender um ponto de vista que afirme que há “O SER (o existir)”, sem que se recorra à idéia contrária: “O Não Ser”. Por isso, o SER é relativo, posto que dependa de sua noção contrária para ser afirmado como existente. Não existe “por si mesmo”, não sendo, portanto, Absoluto.
3. O “Logos”, ou a Mente, ou o Raciocínio, ou a Razão, é o que harmoniza as forças opostas, mesmo que tal harmonia sinalize a existência de um conflito. O Logos, ou a Inteligência, é capaz de acomodar esse conflito e dele extrair algo positivo, como se verá a seguir.
4. O “Conflito é o Pai de todas as Coisas”, pois é do choque de opiniões que surgem as soluções teóricas, intelectuais; e, também, é dos choques e mudanças na Natureza que surgem todas as Coisas; tal como acontece com o atrito de duas pedras que produz o fogo, que poderá ser útil se for bem utilizado, conforme o item acima.
5. O Universo se transforma eternamente (o que é cientificamente comprovado, pela Ciência atual).
6. A Substância ou a Essência única do Cosmos é um “Poder de Mudança” que tem como fenômeno “o Movimento”, perceptível pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar, olfato) Humanos.
7. Tudo é “PANTA REI”, isto é: “tudo flui”, nada permanece o mesmo.
8. A “Verdade” encontra-se no DEVIR1 e NÃO no SER (pois hoje eu SOU de um modo, amanhã SEREI de outra maneira).
9. O que une a Variedade Infinita de Coisas é a tensão que opõe uma Coisa contra outra. Como já se disse, é do embate de ambas que surgirá outra coisa; como, por exemplo:
Areia x Calor = Vidro.
Logo, tudo é feito por contraste, por choque.
10. O Homem só não percebe a “Eterna Mudança” por deficiência em seus Sentidos. Portanto, tudo que parece ser fixo, não passa de mera ilusão.
11. A imortalidade consiste no fato do Homem (ou sua Alma) saber reintegrar-se ao fluxo continuo.
12. O pensamento humano deve participar do Pensamento Universal (como Atman e BRAHMAN, no Hinduísmo), imanente ao Cosmos (ou seja, que “flui naturalmente” do Infinito).
13. O Logos, ou a Inteligência divina, ou a da “Alma do Mundo” é quem governa o Universo, harmonizando todos os contrários.
1) DEVIR – é um termo precioso para a filosofia, pois significa mais do que a simples noção de mudança. Simboliza certo “Vir a Ser”; ou seja, aquilo que do Estado de Potência (ou que tem potencial para tal; ou que “dorme” em estado latente) se transforme em Algo concreto, real, existente. Que se transforme naquilo que “prometia” vir a ser. Como, por exemplo, no caso de uma semente de certa árvore que passará a ser, de fato, a árvore que sua semente deixava entrever. O DEVIR é, pois, mais um indicador do que acontecerá no Futuro, que um mero símbolo de uma mudança no presente. Talvez, por licença literária, eu possa compará-lo à mítica Esperança que nos sobrou da “Caixa de Pandora”.

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domingo, fevereiro 21, 2010 - 02:40

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