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A lenda de Enoah - Capitulo 16
Enquanto Percival repousava, ao abrigo de um enorme tronco de árvore caído, Enoah caminhou até perto da estrada principal de acesso ao Reino de Orgutt, na esperança de encontrar qualquer solução para a entrada discreta no reino.
As primeiras caravanas de mercadores, que anualmente se dirigiam a Orgutt para o festival dos Mortos, já haviam passado e desalentada por perder a boleia, retirou-se para o interior da floresta de Arkhan e para a companhia de Percival.
A noite ameaçara cair pesadamente sob a floresta e com Percival ainda a coxear, ela temia por hipotéticos atrasos ao plano inicial. Por sua vez, ainda meditava nos soldados que enfrentara e cada vez mais concluia que o seu povo das montanhas poderia estar em perigo.
Absorta em cuidados, a filha da montanha acercou-se de Percival:
-Teremos de avançar, pela noite conforme pudermos.
-Enoah, isso é loucura. Esta floresta está apinhada de perigos e nem vós, nem eu estamos familiarizados com os perigos normais de uma floresta.
-Podeis ter razão, Lord Percival, mas já enfrentamos feras, já enfrentamos soldados e nos esquivamos do pantano. Poderemos afirmar que já temos alguma experiencia. Por outro lado, as nossas provissões estão a acabar.
Desabafando algo de inaudivel, Percival ergueu-se e encolhendo os ombros, retomou o caminho por entre os grossos troncos, que forçavam o vento de Nordeste a zumbir.
Enoah ia caminhando resignada, atrás de Percival e acariciando a sua preciosa adaga, mantinha-se atenta aos ruidos da floresta.
Com o manto noturno já perfeitamente instalado, os instintos de alerta despertaram e alertados pelo clarão de uma fogueira, os dois permaneceram calados e atentos:
-Que raio eles fazem, serão suicidas? - Comentou Enoah atónitamente.
-Agora entendo o que haveis dito. Uma fogueira a céu aberto em plena floresta é um convite.
-Devem ser forasteiros e loucos. As feras estarão lá em segundos.
-Mas Enoah, cuidava que os animais selvagens tinham receio do fogo.
-Não quando a fome aperta e especialmente quando cozinham.
-Bem, se as feras lá irão, nós tambem seremos convidados!
Não que Percival pretendesse novo confronto, mas a ideia de se manterem ocupados e sabendo que a atenção de todos os seres da floresta estariam concentrados na fogueira, renovou-lhe as forças.
-Que fazeis Percival? Já não vos chega, estares coxo?
-Estou coxo, mas não inválido. Tendes ideia melhor?
-Bem na verdade, não! Mas teremos de ser cautelosos.
Com o maior dos cuidados os dois avançaram obstinadamente em fila indiana, em direcção da fogueira. Enoah, de punho cerrado sobre o cabo da adaga, tomava a dianteira com o braço esquerdo esticado para Percival, de forma a salvaguardar a distancia. Se porventura um fosse descoberto, o outro poderia se esconder.
As chamas crepitantes da fogueira eram já bem visiveis e o vento carregava o fumo e o cheiro a carne assada na direcção dos dois.
Como que hipnotizada pelo cheiro, a filha da montanha aproximou-se perigosamente e inadvertidamente tocou num fio, preso ao solo que fez soar um barulho de metais perto.
Como resposta, uma voz forte, num Arkhanês perfeito, inquiriu:
-Alto. Quem está ai?
-Uma camponesa do Reino, senhor! - A jovem esforçava-se por ser convincente
-Uma camponesa sozinha, no meio da floresta, à noite?
-Correcto Senhor! - Enoah tentava visualizar o dono da voz.
-Pois se sois quem afirmais, aproximai-vos!
Enoah sorriu de satisfação. Era exactamente o que esperava para se afastar dali e evitar que Percival fosse descoberto. De passo rápido e ligeiro, esforçou-se para esconder a adaga e aproximou-se da fogueira:
-Aqui me tendes. Agora rogo-vos que vos mostrais.
-Jugart, ela fala verdade?
Subitamente de trás de Percival um vulto surgiu apontando o punhal ao pescoço do jovem:
-Receio que a "camponesa" está acompanhada, Lucius! Levantai-vos!
Respondendo ao pedido, Percival ergueu-se sob a ameaça do punhal e juntou-se a Enoah.
Um jovem loiro de calças vermelhas e tronco nu surgiu das sombras e aproximou-se dos dois, seguido por mais dois homens de média estatura:
-Vejamos o que temos aqui. Um casal de mercenários?
Os dois permaneceram calados, evitando o olhar de estranhos. Como não obteve resposta, o lider apalpou a roupa de Enoah e analisou detalhadamente a espada de Percival que Jugart lhe entregava ede seguida encarou a jovem e provocou:
-Tu talvez sejas camponesa, mas este jovem é de Ischtfall, reconheço este brazão em qualquer lugar!
-È meu noivo! Queremos chegar a Orgutt rapidamente para nos casarmos lá.
Os presentes riram com a afirmação e perante o ar de surpresa dos dois, Lucius confirmou:
-Um cidadão de Ischtfall a casar em Orgutt. Só pode ser piada!
-Não. Houve um golpe palaciano e o Rei Leopoldo II foi deposto, fugimos com receio.
Admirado com a astucia de Enoah, Percival não se desmanchou, e retorquiu:
-Foi terrivel, mas não acreditamos no novo ditador Gambinus!
Aquele a quem os homens chamavam de Lucius assobiou baixinho e assumindo um ar grave, inquiriu:
-Gambinus? Haveis mencionado Gambinus?
-Sim, o novo ditador de Ischtfall!
Lucius riu com satisfação e vendo o ar de falsa preocupação nos rostos dos recem chegados, convidou:
-Nesse caso, merece uma festa o noivado. Bem vindos, estavamos a assar Jivenchy ( espécie de porco preto das florestas de Arkham), espero que tenham fome.
Só após contornar a fogueira, os olhos de Enoah se habituaram à escuridão e com surpresa os dois encararam com uma caravana estacionada, atrelada a dois silenciosos cavalos.
-Não achais perigoso, trazer os cavalos para a floresta e acender um fogo? As feras podem atacar!
-De que feras falais? Viemos para o festival dos Mortos e jamais vimos alguma fera.
Evitando mostrar tudo o que sabia e causar suspeita, Enoah encolheu os ombros e no tom de voz mais inseguro que conseguiu, confidenciou:
-Sabeis as lendas que se contam sobre a floresta de Arkhan. Eu as ouvi desde criança. Apenas me assustam, só isso!
Lucius riu e servindo-se de uma botija em pele de carnero, destapou-a e partilhou um liquido avermelhado com os seus companheiros:
-O verdadeiro motivo porque vamos a Orgutt...O vinho!
Uma nosa risada , enquanto os convidados se sentavam perto da fogueira, seguidos pelos anfitreões, aguardando ansiosamente por um pedaço de carne cozinhada.
Sob a luz da chama da fogueira, Percival mantinha-se concentrado no rosto de Lucius. Tinha quase a certeza de já o ter visto em qualquer lado, mas não conseguia recordar-se onde. Para quebrar o gelo, inquiriu:
-Sois comerciantes?
-Não. Somos artistas circenses. Aproveitamos as festas para exibir alguns numeros e ganhar alguns Rupys.
-Pois, para o gastarem em vinho...Pfff, artistas! - Enoah provocava prepositadamente.
Lucius sorriu e ao invés de se mostrar ofendido, serviu um bocado generoso de carne a Enoah.
Percival mantinha-se atento e concentrado. Não gostara de sentir a lamina de Jugart no seu pescoço e perguntava-se se artista de circo teria direito a punhal. Além do mais, continuava com o sentimento estranho de que eram constantemente vigiados.
A conversa decorria com muitas reservas e cheia de frases de circunstância, até que Percival reparou no punhal que Lucius trazia á cintura.
Percival reconhecia esse punhal em qualquer parte do Mundo. Ele mesmo pedira a Samuel o Ferreiro para o fazer e oferecera de prenda de anos ao pagem de Gambinus.
Sem levantar suspeitas, aproveitou a desculpa para ir urinar e manteve-se perto do sitio onde estava a espada.
Enoah que aprendera a estudar o rosto de Percival, desde que entraram na floresta, alarmou-se mas manteve-se na defensiva, até que o cavaleiro de Ischtfall, confrontou:
-Artista de circo ou assasíno? Como haveis conseguido esse punhal que trazeis na cintura?
Lucius mantendo a calma, sem sequer encarar o seu opositor, defendeu-se:
-Foi-me oferecido!
-Oferecido, por quem?
-Cavalheiro, sois meu convidado e não sei se haveis reparado, estais em menos numero. Não creio que seja uma boa altura para me chamardes de mentiroso!
-Na verdade creio que esta é uma excelente altura. Não acredito que sois quem afirmais ser.
Jugart, deu dois passos levando a mão ao punhal e com ar de zangado, aproximou-se de Percival. Pore, Lucius levantou a mão, ordenando-lhe que parasse, e sem desviar os olhos da carne, retorquiu:
-Então somos da mesma opinião. Eu não acredito que vós sois quem afirmais ser, Sir Percival e Lady Enoah!
Surpresa pela afirmação Enoah ergueu-se quando uma flecha lhe acertou no ombro esquerdo. Com a força do imapcto da flecha, Enoah tombou e imediatamente alguns soldados surgiram de dentro da carruagem , caindo em cima de Percival.
Lucius, acabando a refeição, levantou-se saboreando o resto que ficou nos dedos e encarando o ar de dor da filha da montanha , que era amoradaçada por Jugart retorquiu:
-Quereis saber um segredo? O dom da invisibilidade não pode ser usado, quando estais ferida. Aposto que não sabias?
Virando-se para Percival, retirou o manuscrito de Gambinus e leu em voz alta. Era um aviso a Pretorius sobre um hipotético ataque perpetuado por Leopoldo II e a adverti-lo que possivelmente Enoah e Percival fariam parte do plano de ataque.
-Sabeis quanto Pretorius pagará por esta informação?
-Agora vos reconheço, sois o mercenário Lucius Gravenn, ja vos vi em Ischtfall. -Sentenciava Percival
-Verme. Não passais de mercenário! - Gritou Enoah
-Pelo contrário Lady Enoah. Desconheço as vossas razões mas não acredito que uma criatura da montanha e um "Lord", planeassem invadir Orgutt, com mais de 2000 guardas no interior.
O silencio instalou-se por segundos, cabendo a Lucius a tarefa de continuar:
-Bom, independentemente do vosso plano, pagam o mesmo por os levar vivos como mortos e sinceramente não gosto do ar superior desse lord....Matem-no!
Enquanto aguardava o desfecho de Percival, Lucius pisou o ombro ferido de Enoa, fazendo-a contorcer-se de dor, sem dar tréguas esfregou violentamente o queixo no solo, livrando-se da moradaça e fez o que qualquer criatura faria no lugar dela. Gritou com toda a força:
-Nãaao!!!
Como resposta à sua prece, duas feras saltaram sobre os soldados e o resto da matilha irrompeu, rasgando o manto escuro de Arkhan e atacaram os companheiros de Lucius.
Apavorados os cavalos relincharam eafastaram-se até ao limite da corda que os prendia.
Atrerrorizado pelo surgimento das feras, o lider perdeu todo o seu autocontrole e cometeu o erro grafe de ameaçar as feras com o archote.
Foi o ultimo dos falsos artistas circenses a ser atacado e ferido de morte.
Enoah, amarrada e ferida cerrou os olhos e aguardou que a vez dela chegasse, quando para espanto de Percival, as feras aninharam-se perto dela e agvuradaram por um acto de carinho.
Sem saber o que pensar, Percival aproximou-se devagar de Enoah soltando-a e erguendo-a docilmente, confidenciou:
-Estás a usar alguma magia nova?
-Não. Creio ter descoberto quem nos seguia desde o primeiro dia.
-Mas que se passou com eles?
-Não entendes Percival? Eu matei a lider da matilha, creio que isso me coloca, aos olhos deles como a nova lider.
-Será possivel?
-È a unica explicação.
-Bem, pelo menos estão do nosso lado!
Enoah, soltou os pedaços de carne do fogo e serviu às suas novas "amigas", e observando a carruagem, retorquiu:
-Creio que acabamos de encontrar um modo seguro de entrar em Orgutt.
Debruçando-se sobre o corpo de Lucius, Percival retirou o punhal do pagem e beijando demoradamente Enoah, ordenou:
-Depois. Agora vamos tratar dessa ferida.
Pegando nela ao colo, Percuval levou-a para a carruagem , onde sob o mnto negro da noite de Arkham, despiu-a em suaves beijos, nos curtos seios de Enoah e apesar de lento, pela ferida que o fazia coxear, sentiu a boca dela em si, no seu sexo e numa explosão de luxuria tomou-a como se fora a primeira vez em mil anos que tomava uma mulher.
Pela primeira vez, as feras dormiram perto da carruagem onde no interior Enoah e Percival partilhavam caricias nos corpos cansados
-------Fim capitulo 16
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Comentários
Re: A lenda de Enoah - Capitulo 16
Torço pelos dois :-)
Lindo...!
Clarisse