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Manuel, o velhinho
Manuel, o velhinho
Fim de tarde numa praia qualquer, onde o crepúsculo se apresenta como que se para lá dele já não existisse mais mundo.
Senhor Manuel, um velhinho que contava em forma de lembrança o passado longínquo, rodeado por grupo de jovens que lhe faziam companhia e ao mesmo tempo sabiam, que o velhinho com uns copos a mais era a comédia em pessoa, e enquanto o sol já bocejava o sono de mais um dia já entremeado pelas primeiras estrelas da noite, aproveitavam também para gozar com a situação.
Manuel, o velhinho:
Quando fui soldado estive numa guerra, numa daquelas guerras que ninguém sabe porque estava ali. Como não queria matar ninguém, escondia-me para não ser morto nem matar, mas um dia, o meu capitão disse,”(Manuel, todos aqui se gabam de matar inimigos (japoneses) e tu nada?)” Todos soldados se riam de mim. Eis que então enchi de coragem, bem, já pouca em mim cabia, pois já estava cheio de álcool. Dirigi-me até uma árvore de flores à qual chamavam Japoneira, pus-me debaixo dela e comecei a disparar a minha metralhadora, só quem viu, os japoneses pareciam pinhas a cair abaixo!
Depois de uma gargalhada diz um dos jovens:
Senhor Manuel, foi nessa guerra que ficou coxo?
O velhinho:
Não. Isto de coxear, foi quando estive a trabalhar em França, estava no décimo terceiro andar de um prédio em construção a pintar, quando escorreguei numa corda esquecida naquele andaime e caí de lá abaixo, enquanto vinha em queda, avistei um amontoado de tijolos, apercebendo-me de que havia um buraco entre eles, tentei contorcer-me para que caísse nele mas tive azar, só uma perna caiu no buraco e a outra partiu.
Mais uma gargalhada geral e outro jovem questiona-o soslaio:
E então não se magoou mais do que isso? Numa queda dessas, a morte era quase infalível!
O velhinho:
Ai rapazes, naquela altura era leve como uma pena e tive pena dos tijolos, pois se os partisse, teria de os pagar.
Pelo meio da risota, um jovem pergunta-lhe:
Porque é que o senhor Manuel nunca casou?
O velhinho:
Conheci muitas mulheres e poucas tive, a primeira foi em Timor, tinha uma estranha cor e uns seios fartos que chegavam daqui até lá diante! Mas tive de vir embora e não a pude trazer. Tive outra em França, perfumada, bela, uma loira que não era só minha, era também de quem lhe pagava, e como eu não pagava, deixei de ter crédito na cama dela. Tive outras mais mas nunca pagava, como tal nenhuma me quis para marido.
Após um breve silêncio interrompido por soluços de riso, outro jovem pergunta:
Quando for velhinho como o senhor Manuel, também vou ter as mãos assim enrrugadas?
O velhinho:
Não, não porque tu não andas de mota. Tenho assim as mãos porque quando estive a trabalhar nas estradas em Espanha, tinha uma mota para ir pró local de trabalho, mas não era uma mota qualquer. Era uma mota com tracção às duas rodas, tinha uma corrente de trás à frente, aquilo é que andava, até bufava! E eu então naquelas velocidades para curvar tinha que me deitar todo nas curvas, tanto que as mãos até roçavam no chão!
Mais uma gargalhada descontrolada acercava os tons da noite já bem acordada sobre aquela praia, onde também passeavam vozes das mães dos jovens para irem cear e o senhor Manuel conta a última história como aperitivo.
O velhinho:
Ide, o vosso jantar espera-vos, o meu também e hoje é especial, é um pedaço de porco que o gajo do talho me ofereceu. Anteontem, ao passar perto da casa dele, estava ele e mais quatro a tentarem a matança do animal, era facada daqui, facada dali e facada de acolá, e o porco não morria. Ao ver como sofria aquele animal, aproximei-me dele, dei-lhe uma bofetada, morreu logo!
Após última e rasgada gargalhada, todos se recolheram em suas casas.
FIM
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Comentários
Re: Manuel, o velhinho
Gostei muito Henrique, e ainda mais por saber que se baeia numa hisória assim, contigo fazendo parte
Obrigada pela participação
beijo
Matilde D'Ônix