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O que é literatura local?

Paulo Monteiro

O conceito de literatura local é eminentemente científico. Da mesma forma que existem escritores conhecidos e reconhecidos regional, nacional e internacionalmente, existem escritores que são conhecidos e reconhecidos máxime no "local" onde vivem e escrevem.
O conceito de literatura local é empregado em sentido amplo ou restrito. No primeiro sentido refere-se ao conjunto dos escritores conhecidos localmente; no segundo aos escritores conhecidos em determinada localidade.
O Brasil possui uma literatura local riquíssima. Apenas um dos autores do presente artigo possui em seus arquivos nomes e endereços com mais de três mil escritores locais brasileiros residentes nos mais diversos municípios do país.
A quantidade de escritores locais, no sentido restrito, é determinada por diversos fatores entre os quais a população da localidade, o nível de leitura na comunidade.
O certo é que quanto maior e mais esclarecida a população maior e melhor, esteticamente falando, o número e a qualidade dos escritores locais.
O número e a qualidade dos escritores passo-fundenses são mais significativos do que dos escritores coxilhenses. Em Porto Alegre a literatura local é mais rica e variada do que em Passo Fundo. Os escritores locais paulistanos superam os porto-alegrenses.
Via de regra todos os escritores com obras lidas e conhecidas fora do local onde moram começaram como escritores locais. Basta o exemplo clássico de Machado de Assis, o mais expressivo escritor brasileiro de todos os tempos. Começou publicando seus trabalhos em jornais do Rio de Janeiro. Depois, reunidos em volume, seus textos, muitos dos quais traduções de obras estrangeiras, começaram a ser lidos fora de sua cidade natal. E seu nome se foi tornando reconhecido fora da Capital do Império.
Assim, o escritor local de hoje pode transformar-se no escritor canônico de amanhã, nacional ou universalmente.
Para que o escritor ultrapasse os estreitos limites de sua aldeia é indispensável a conjugação de uma série de fatores.
Em primeiro lugar é preciso que o escritor seja dotado de "dom". Muitos escreveram versos em Itabira, mas só um itabirano assumiu a importância literária de Carlos Drumonnd de Andrade, o próprio Drumonnd.
É indispensável que a obra individual repercuta o mais amplamente possível. Muitos escreveram versos em Ipatinga, mas só um ipatinguense alcançou a repercussão de Carlos Drumonnd de Andrade, o próprio Drumonnd.
No fundamental, é preciso que o escritor local tenha talento real e que sua obra alcance circulação e reconhecimento fora da aldeia. O estudo da literatura brasileira e dos principais escritores nacionais é altamente ilustrativo.
Os escritores locais, em sua absoluta maioria, apenas foram reconhecidos ao abandonarem a província. Os casos de escritores, que passaram a fazer parte do cânone nacional, com uma produção editada e difundida a partir do interior do país, como o pelotense João Simões Lopes Neto, porém, são raríssimos.
O grande impedimento para o reconhecimento do escritor local é a falta de circulação da obra, indispensável para a recepção da obra. A recepção da obra é que determinará até onde o autor chegará, em termos históricos, para o que contribui, especialmente, a combinação entre o espírito da época e o domínio da técnica literária, união que gera os escritores canônicos e a renovação estética.
Se os criadores não publicam suas obras ou se estas não circulam continuarão sendo, no máximo, escritores locais.
A simples edição e difusão de livros, porém, não é suficiente. Ainda que um autor fizesse imprimir bilhões de exemplares, nas mais diversas línguas, e os fizesse circular entre todos os habitantes do Planeta, seria uma futilidade se lhe faltasse talento. Poderia, no máximo, derrubar o preço do papel higiênico.
Não basta, pois, a edição e circulação da obra literária; é preciso a sua conservação, o que só se torna possível com a recepção, a aceitação pública. Para tanto, deve alcançar, ao menos, certo grau de universalização do particular. Por isso é que muitos escritores de best-sellers e ganhadores de cobiçados prêmios literários terminam, em pouco tempo, apenas contribuindo para a ampliação de papel reciclável.
É fundamental para que os escritores locais ultrapassem os limites da aldeia que produzam e façam circular uma literatura da melhor qualidade.
A bem da honestidade intelectual devemos afirmar que, até hoje, a maioria dos escritores passo-fundenses produziu uma literatura ultrapassada.
Enquanto o Concretismo, a Instauração Páxis e o Poema Processo assumiam a vanguarda da literatura nacional nossos romancistas continuavam escrevendo folhetins à maneira do século XIX e os poetas compondo sonetos, sonetilhos e versos humorísticos à Belle Époque. Quando, há três décadas, a Geração do Mimeógrafo, deixava para trás as vanguardas, continuávamos estacionados num modernismo vulgar ou presos a um baixo parnasianismo.
Ora, o novo é um dos componentes indispensáveis para a melhor qualidade da obra literária. E não se lho aprende nas salas de aula com a leitura simplória dos sempre ultrapassados manuais de História da Literatura Brasileira. É preciso e urgente que a literatura local dialogue com a literatura praticada nos mais diversos brasis literários e em outros países.
Quem conheça alguma coisa do que se passa até mesmo em pequenas cidades sabe que escritores locais são lidos e traduzidos em diversas partes do Globo. E isso não acontece de graça. É conseqüência de um intenso labor literário, através de publicações individuais e coletivas, além de periódicos que circulam nacional e internacionalmente.
A situação passo-fundense não é diferente da que ocorre em outros municípios. Os escritores locais não podem continuar chorando o leite derramado, mendigando o mecenato dos poderes públicos, especialmente daqueles que servem a projetos personalísticos, portanto, mesquinhos; muito menos reclamando espaços em atividades que têm uma abrangência maior, como a Jornada Nacional de Literatura, se não conseguem romper os apertados círculos familiares. E pior, quando se omitem de participar de atividades que valorizam os escritores locais, como a própria imprensa literária municipal.
Os exemplos são muitos de que há espaço para a literatura local desde que o escritor tenha talento e encontre os mecanismos para a circulação de sua obra. Revistas literárias bem feitas - e a história das letras pátrias é prenhe de exemplos - têm contribuído para essa divulgação.
Em Passo Fundo, especialmente nos últimos anos, a Academia Passo-Fundense de Letras tem usado de todos os instrumentos possível para divulgar os escritores locais. Iniciou com a publicação semestral da revista Água da Fonte, que publica trabalhos literários, culturais e jornalísticos dos acadêmicos e de outros autores que não fazem parte do sodalício. Recentemente, numa iniciativa inédita, pelo menos em termos de Brasil, numa parceria entre a Academia e a Câmara de Vereadores, está sendo produzido o programa Literatura Local, transmitido diariamente pelo Canal 16, da NET.
Isso representa o amadurecimento dos escritores passo-fundenses de que a literatura local somente alcançará amplitude pelo esforço dos próprios escritores. Esse é o desafio posto ante milhares de escritores brasileiros que, do amazonas a Fernando de Noronha, do Amapá ao Rio Grande do Sul, exercem o mister de escrever.
Ao finalizar este artigo resta-me fazer duas observações.
Primeira: o conceito de literatura local foi haurido após leituras e reflexões sobre o livro Lecciones sobre la filosofía de la historia universal, de Georg Wilhelm Firedrich Hegel, Traducido del alemán por José Gaos, Alianza Editorial, S.A., Madrid, Tercera edición, 1985.
Segunda: a única análise disponível até agora sobre os escritores canônicos de Passo Fundo foi elaborada por Paulo Monteiro e apresentada durante a Semana das Letras Passo-Fundenses, realizada entre os dias 1º e 7 de agosto de 2002. Está disponível na revista Água da Fonte, desdobrada em Dois romancistas passo-fundenses (Água da Fonte Ano 1 - nº 0 - Dezembro de 2003, págs. 28 e 29) e Alguns poetas passo-fundenses (Água da Fonte Ano 1 – nº 1 - Abril de 2004, págs. 7 a 10). (Passo Fundo, agosto de 2007).

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sexta-feira, janeiro 23, 2009 - 12:47

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