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Palavras ganhando imagens

De que me adianta querer ir tão distante, se o que está aqui bem próximo ainda não observei na sua totalidade. As folhas velhas do fícus secas caíram pelo chão da varanda, e ainda resta o galho esturricado no vaso de barro com terra seca. No bar as garrafas de licores restam alguns tragos que não foram sorvidos. A lâmpada da sala que espera ansiosa para ser trocada que há anos queimou, talvez numa noite de tempestade. No antigo quarto do casal os livros, os porta-retratos e os relicários de viagens do passado sobre os criados-mudos o pó se sobressai e impera. Na geladeira quase vazia, uma garrafa de água turva abandonada, e sobras de verduras e legumes em estado de putrefação, designavam bem o estado e a situação. Uma enorme pilha, de jornais velhos servia de ninho para uma família incontável de ratos que vagueia em procissão. As fechaduras oxidadas pela ação do tempo ido, as dobradiças enferrujadas das portas internas rangem estridentes pela deslocação do vento pelos corredores que entram pelas venezianas destroçadas e com os vidros quebrados. No piso o brilho se foi, os tacos se soltaram certo que pela dilatação. Do antigo sofá de couro marrom rasgado ate o televisor de transistor uma ponte se estende de teias de aranha. Os fachos de sol transpassavam a cortina puída que já não era mais branca. Acima do sofá também se estendiam mais teias ate um quadro com uma aquarela abstrata pendurado na parede que devia ser azul turquesa. Em outra parede da sala de jantar um relógio que os ponteiros não se mexiam, mas que no passado foi muito olhado quando a vida funcionava ao seu redor. Sobre a mesa esticada uma toalha de linho florida, quatro xícaras e pires e os talheres de prata ao lado denotava que não fizeram seu chá vespertino num destes dias de inverno. Só posso afirmar que tomariam chá, porque lá ainda estavam os saches de ervas corroídas pelos bichos, o bule de prata e cesta de pães vazia, talvez, surrupiados pelos roedores. O cheiro de mofo que vinha da umidade do banheiro que ainda gotejava nas torneiras e do velho chuveiro. As escovas de dente sobre o lavatório dentro do copo de plástico encardido, acima do lavatório o espelho quebrado dividiu meu reflexo em partes desiguais. Sai daquela velha casa em passos lentos da mesma forma e pela mesma porta que entrei, sem encontrar o que esperava. O meu passado.

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sexta-feira, julho 10, 2009 - 21:16

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JosedeSousa

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