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Sobre o manto da embreaguez
Enquanto caminhávamos pela rua de paralelepípedos mais antiga da pequena cidade dos Alpes dos Mendonças, que fica no extremo da zona leste na grande São Paulo. Eu e meu amigo Lutero conversávamos sobre diversos assuntos num dialogo fluente como sempre acontecia em nossos encontros depois da saída do trabalho. Lutero tinha a capacidade de domínio sobre a inteligência privilegiada, herdada do pai farmacêutico pioneiro na cidade. O pai de Lutero havia adquirido um certo prestigio no município, decidindo assim concorrer ao cargo de prefeito depois de ter ocupado uma cadeira na câmara de vereadores. Seu oponente era um candidato forte; um imigrante francês que tinha a má reputação entre os moralistas por gostar de garotos.
Porem, o que uns vêem, outros não têm este mesmo ponto de vista. O pai de Lutero perdeu nas urnas uma eleição que pensou que estava ganha, e para piorar, por um numero expressivo de votos. Lutero e eu: sentados na sarjeta, enquanto fumávamos um cigarro brincávamos com nossas idéias que com o tempo não se consumiu. Dizia em tom irônico: que seu pai nunca mais foi o mesmo, depois de ser derrotado por um homossexual. Eu acredito, mesmo que ele esquecesse os homens da minúscula cidade de onze mil habitantes, que gostavam de ver o circo pegar fogo, não deixariam ele esquecer, com chacotas.
Depois de acender outro cigarro, Lutero continuou com suas declarações ironizadas, dizendo.
_ Como um homem honesto, pai de família, católico e devoto de nossa Senhora, em plena década de setenta pode perder uma eleição ao cargo mais respeitável dentro do município para uma bicha francesa? E porque os eleitores confiaram na bicha francesa, para ser o representante mais importante daquela cidade?
Saímos daquela sarjeta que o esgoto exalava um odor nada bom; e para que no dialogo não associasse o cheiro de dejetos que fluía pelo meio fio. Sentamos no banco da praça da matriz bem enfrente a porta da igreja. Era final de tarde e nada atrapalhava a seqüência do papo, apenas os pardais numa algazarra em coro, que procuravam abrigo nas arvores. Tentei esclarecer algo que em minhas ideais borbulhavam há anos, sem ter coragem de dizer a alguém com receio de associarem o conceito a loucura.
_Eu nunca li nada a respeito dentro da historia de quando surgiu o homossexualismo; temos apenas relatos folclóricos de que o imperador romano Nero, o imperador Napoleão Bonaparte e o pintor Leonardo da Vinci eram homossexuais. A ciência nada nos explica a respeito, o que me leva crer que seja uma mutação genética. O caminho que os genes decidiu seguir para poder se salvar, enquanto estiver usando a espécie humana como hospedeiro.
Lutero arregalou seus olhos vermelhos de tanta fumaça e quase caiu do banco, dizendo que de fato eu estava ficando louco, mas me pediu para dar seqüência ao raciocínio quando salientei, que o que estava por vir era muito mais fora da capacidade do pensamento da mente humana. E assim continuei o raciocínio que despertou sua vasta sabedoria, dentro do contemporâneo.
_Alguns fatos também me levam crer que no futuro bem distante, nos transformaremos em hermafroditas.
_Pode continuar que sou seu ouvidor de plantão.
Antes de continuar pude ver em Lutero seu olhar de sarcasmo e curiosidade por cutucar o machismo da masculinidade pré-potente humana.
_O numero acentuado de gays vem numa crescente nos últimos séculos. Não me venha dizer que o pré-conceito diminuiu e que milhões deles decidiram colocar a cara para baterem. Estou cansado deste discurso sem embasamento das pesquisas.
Meu amigo ouvidor concordou, mas não deixou de rir. Também um simples detalhe que eu evidentemente esperava, diante do seu emblemático passado paternal do catastrófico da politicagem.
_Fique sabendo o senhor que há um acompanhamento minucioso de pesquisadores na área da genética preocupados com desenvolvimento sexual humano, mas por viverem sobre o manto da cultura não estabelecem a união dos fatos. As mulheres descobriram nas ultimas décadas que têm orgasmos, também que em ambos sexos existem a produção de hormônios masculinos e femininos (testosteronas e progesteronas) respectivamente.
_Mas, isso o mundo inteiro sabe. Meu caro amigo!
_Porem, muita gente no mundo não sabe que nos gays há um inverso na produção destes hormônios. Os gays do sexo feminino há uma produção maior de testosterona masculino, e os gays do sexo masculino a produção de progesterona é acentuada.
_Isso é um fato novo para os meus ouvidos.
_Ao mesmo tempo, que existe um acompanhamento do desenvolvimento sexual por parte da ciência, os genes também vem direcionando e interferindo no nosso desenvolvimento orgânico sexual. Os genes sempre deixaram indícios de que eles são os sistemas centrais da matéria orgânica e as síndromes são esses exercícios ou placas de informações para qual o caminho que vamos seguir.
Meu amigo, realmente era simplesmente ouvido, não tinha realmente o que falar sobre o tema que venho estudando há muitos anos alem do que é um assunto que pelo qual interesso-me profundamente. E assim prossegui em minha dissertação.
_Amigo Lutero. De tantas noites bebendo e conversando! Direciono-me na suposição que chegará um tempo: que um determinado ser do sexo masculino poderá ovular, e um ser do sexo feminino poderá produzir espermatozóides. Enfim nos defrontaremos com um enigma que ate então as possibilidades de ocorrer eram mínimas. Um ser do sexo masculino não necessitará do sexo oposto para dar seqüência à espécie, sendo que o ser do sexo feminino também não necessitará do sexo masculino para o mesmo intuito.
_Você não acha utopia para os nossos simples conceitos? Esse mundo que você vive está completamente fora da realidade.
Lutero discordou deste começo de explicações, com total certeza em suas palavras que não me restou alternativa em marcar um novo encontro para o dia seguinte e continuar com minha ideologia futurísticas. Lutero se postou de pé na minha frente, quase que se despedindo. Bocejou numa ressonância aguda e falou.
_Vou para casa dormir. Quem sabe, com meu travesseiro consigo entender parte desta explicação. Amanhã eu não vou trabalhar, vou resolver alguns problemas em São Paulo. Mas, passe na minha casa depois que você sair.
No dia seguinte, depois do trabalho corri na direção da casa de Lutero entusiasmado pela paciência do amigo. Fui recebido com uma garrafa de vinho tinto seco. Sua mãe nos fazia companhia no dialogo convencional durante a primeira garrafa e a segunda da boa safra da merlot. A sala era o antigo escritório do seu pai. Varias prateleiras de madeira de lei repleta de livros empoeirados de excelente encadernação, muitas pipetas e balanças: para pequenas quantidades; uma rica cristaleira do começo do século, com desenhos de rostos angelicais esculpidos nas laterais e pés. A mãe de Lutero anestesiada devido ao consumo do álcool logo se despediu retirando-se para o seu quarto. Sempre achei que ela sofria de prosopagnosia, pois nunca foi capaz de dizer meu nome em tantos anos de amizade com Lutero. Fizemos um ritual antes de começar aquele assunto tão complicado e mal explicado. Acendemos um cigarro enquanto comentávamos sobre os efeitos de um bom vinho nas reuniões, festas e um dialogo inteligente. E foi assim que prossegui.
_ Nos tornaremos um só, como um elo na cadeia de força que alimenta a vida. Nos parecemos com células, nos multiplicamos e temos um padrão simétrico. E como organismo existem falhas, principalmente no sistema de comunicação por completo entre eles.
Lutero acendia outro cigarro, quando decidi em ir, na direção do banheiro. Sentia-me completamente tonto parado de pé. Quando andei, o chão parecia mover-se para cima e para baixo. Quando retornei continuei na emblemática.
_ Os genes exigem que os neurônios executem suas funções acima do normal. O fato de haver excesso de informações, os neurônios primeiro organizam-nas e de maneira sintetizada e as armazenam nos genes. De forma bruta há uma necessidade orgânica de ser expelida através das artes como um todo.
_ Por este motivo é que muitos enlouquecem?
_ É evidente, Lutero. Os genes são muito exigentes no comportamento dos órgãos e seu perfeito funcionamento, e se algum deles tiver um mínimo defeito ele se destrói.
_Existem evidencias concretas a respeito disto?
_Sim, senhor. O câncer é um exemplo clássico.
_Nós os homo-sapiens, somos hospedeiros dos genes que adquiriram o melhor desempenho no desenvolvimento dentre as espécies de genes, nos faz de escudo, de espada e de cavalo de tróia nesta batalha incessante no mundo que ficou invisível por milhares de anos. Mesmo nós ainda acharmos que somos independentes e auto-suficientes, mas sem duvidas são os genes que nos direcionam na rota da perfeição e do desenvolvimento. Eles eliminam os ineficientes e frágeis, une os inteligentes e fortes, os bonitos e perfeitos nesta guerra genética, visível somente aos microscópios.
_Por este motivo o pré-conceito é inevitável em todos os seguimentos da sociedade humana?
_Não só humana, mas, organicamente também. Sempre acreditei desde de pequeno haver algo determinante em nosso desenvolvimento, hoje isto me leva crer que esta determinação que os genes exercem sobre nós, criando um estado de insatisfação. Como se nos faltasse algo muito importante. Essa insatisfação que nos faz trilhar no caminho das crenças, religiões e rituais e a viver sobre (o manto da cultura).
_O que realmente você tem escrito a respeito sobre (o manto da cultura)? É um tema que me atrai, mesmo estando embriagado.
_O que tenho escrito e ainda estou escrevendo. Como a humanidade passou a viver sobre o manto da cultura é uma idéia que amadurece como uma fruta à sombra de uma árvore. O manto da cultura nos protege em muitas circunstancias. Mas ao mesmo tempo em que nos protege nos limita a ter idéias novas e ver alem do horizonte. Alem do que nos separa por classe, cor, etnias e comportamento, também por paredes, muros, ruas, quarteirões, bairros, cidades e países. Há mais ou menos dois mil anos atrás nasceu um homem chamado Jesus, nascido na cidade de Belém. Dizia Jesus aos quatro ventos que havíamos entrado na era do amor. Que o amor pelos outros deveria ser maior que aquele que sentimos por nós mesmos, e que o amor nos daria direito à entrada ao reino do paraíso.
_Não venha me dizer que você não acredita que existiu Jesus?
_Claro que acredito! Mas, houve uma fusão, entre a submissão dos egípcios pelos faraós, a adoração dos gregos pelos deuses do Olimpo, com o amor que Jesus tentou nos direcionar. E ao longo destes séculos vivemos nesta confusão sem entender realmente o sentido do amor. O fato de vivermos sobre o manto das culturas, não nos permite desagregar estes valores tão enraizados em nossa vida social.
Lutero não soltava sua taça, que de momentos em momentos transbordava ao colocar o vinho deixando manchas num tapete persa desgastado e que há muito tempo não era lavado. E dei seqüência as minhas idéias.
_Quero dizer que aliado ao medo vamos a busca da felicidade plena, do desenvolvimento e resistindo aos ataques daqueles que querem nos destruir. E individualmente, usamos as palavras e nossas histórias que brotam da imaginação contra estes ataques que estamos expostos. Alguns anos atrás notei que quando escrevo a paranóia e a neurose é amenizada. Meu convívio social tem uma melhora acentuada, conseqüentemente o diálogo flui naturalmente. Há um equilíbrio geral e que faz sentir me muito mais importante que sou.
_É como se você recebesse um empurrão na estima morro acima?
Respondi com certa afirmação, e Lutero tinha vontade de falar sob o efeito do fermentado. Não o interrompi, pois suas idéias evocavam as minhas, como engodo da vara de pescar.
_ Quantas e quantas noites, quase estreladas ou nubladas, povoadas ou no total solitárias, que vaguei sem saber ao certo qual o melhor caminho a seguir... Algumas vezes penso em ter escolhido a trilha ideal. Porem, noutras vezes acredito que escolhi cegamente lugares estranhos e que ainda vou equivocar-me em excesso no seu longo decorrer.
_Quer dizer que enquanto o ser homem segue seu destino, rumo ao desenvolvimento, por vezes ele se defronta com varias bifurcações neste longo trajeto? Foi isso que você quis dizer anteriormente?
_Mais ou menos isso. Enquanto uma pequena parte segue o caminho do puro amor, a grande maioria continua no caminho da arte, da devoção, veneração e idolatria. E isso tem sido o grande problema ao longo da vida da espécie. O amor que sentimos pelos filhos, pais, amigos deveria ser o mesmo nas relações afetivas, no cotidiano e na relação de um ser para com outro. Porem no decorrer ele se transforma em idolatria; nos ajoelhamos diante de uma imagem, a devoção é inevitável. A imagem passa ser maior que a do próprio admirador.
Lutero sorvia com prazer e rápido o restante do vinho da quarta garrafa, o que dava a ele um delírio poético no instante de extrair mais informações sobre as minhas teorias, que iam criando dimensões antes inexploradas pelo meu pensamento fictício. Fiquei contemplativo ao ouvir seus devaneios.
_É um fato inexplicável! Que no cair da noite a nossa personalidade que nós dá a doce impressão de que está camuflada, dá o ar da sua graça e nos expõe a transparência da sua exorbitante força. Como se desprendesse do corpo material sem no mínimo analisar que dele simplesmente provêm. O mistério só as noites pertencem. Dela vem os lúdicos poetas, pintores visionários, cantores afônicos, imersos atores, semideuses ou escritores e infratores que desenvolvem com maestria o dom de iludir ou definir se deve subir a um nível acima dos demais. Sempre focando um olhar (clinico) sobre a amplidão. Porque individualmente só à noite o mistério pertence?
_Talvez seja por estar sobre a proteção da terra, dos efeitos dos raios solares. Talvez também diminua a pressão atmosférica, assim os neurônios fluem na sua total capacidade ou também alguma espécie de energia do cosmo que o sol nos limita a receber.
Fiquei calado, enquanto o silencio reinou na sua ausência quando cambaleando, também foi ao banheiro. Mas, refleti que se não fosse a escuridão da noite não perceberíamos a importância do silêncio da terra que consome o medo, também à necessidade fugaz do fogo, o poder de mutação dos ventos, a capacidade essencial da água. Ou como de um olhar pessimista, a terra mostrasse a nós a sujeira, o fogo incinerasse esterilizando, o vento varresse e a água lavando de todos os equívocos. Ou também de um olhar racional, a terra demonstrasse a sua exuberância de germinar, o fogo de acionar e transformar, o vento de misturar e adicionar e a água vital de estar sempre nutrindo. São os quatros elementos essenciais que conhecemos, porem nos esquecemos de dois outros elementos que ainda são fundamentais para o desenvolvimento: o dia e a noite. A claridade do dia nos faz ver o que a sombra da noite esconde, e a noite nos faz sentir o que durante o dia enxergamos, mas não nos é permitido sentir. Fica mais fácil entender se pensarmos como se fossemos micro organismos. No principio da espécie humana, quando ainda não tínhamos desenvolvido a visão e tudo era uma eterna escuridão. Só podíamos sentir, e é evidente que entre os sentidos o primeiro a se desenvolver foi o tato, depois o paladar.
Quando Lutero retornava, usava os moveis como escora para não cair. Próximo à poltrona se jogou sobre as almofadas que diminuíram o impacto do corpo mórbido. Mas, ainda teve o ultimo vestígio de lucidez ao se manifestar sobre o raciocínio que desprendera, talvez no momento que usava o vaso sanitário.
_Jesus Cristo não morreu por nós como dizem nos sermões repetidamente. Quem matou Jesus foi exatamente o fato de vivermos sobre (O Manto da cultura). Criaram esta cultura de veneração a milhares de anos. Como um rio de mentiras, somos arrastados pela correnteza do iludir até os dias de hoje. O amor não é dar esmolas ou dízimos, é doar a si mesmo transmitindo inteligência, coragem, dignidade, respeito, paciência e paz.
Enfim o vinho nos venceu naquela madrugada.
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