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Para Além de uma Biografia

Paulo Monteiro
No dia 22 de julho de 2007 Antônio Agostinho Rebelato completou um século de existência. Para comemorar a efeméride, seu filho Alberto Antônio Rebonato escreveu e a Méritos Editora publicou Antônio Rebonato: um modelo de vida.
O autor nasceu a 15 de setembro de 1937, na então localidade de Barra Funda, distrito de Sarandi, município de Passo Fundo. Iniciou seus estudos na terra natal, continuados na Escola Normal Rural de Guaporé e Colégio Murialdo, de Ana Rech, Caxias do Sul. Transferindo-se para Passo Fundo, trabalhou na redação do Diário da Manhã, ingressou no Banco do Brasil, aposentando-se como gerente da agência de Getúlio Vargas. Formado em Direito pela UPF, casou-se com Lourdes Trindade Rebonato, que lhe deu cinco filhos e nove netos. Alberto é membro atuante da Academia Passo-Fundense de Letras.
Caminheiro incansável, em busca de suas raízes familiares, meteu-se nos cartórios e arquivos da paróquia de Reverchiara, em Verona. Ali encontrou a Certidão de Batismo de Bortolo Rebonato, seu avô paterno, nascido a 18 de março de 1866. Imigrando para o Brasil casou com a viúva Ângela Scapini. Ângela faleceu sem deixar filhos. Algum tempo depois casou com outra viúva, Assunta Oldani, de 22 anos, mãe de dois meninos pequenos. Dessa união nasceram diversos filhos e filhas.
Bortolo, que não tinha espírito de colono, foi trabalhar na construção da estrada de ferro que ligava Monte Negro a Caxias do Sul, destacando-se como capataz no trecho Barão-Carlos Barbosa. Continuou a vida repartido entre os serviços da lavoura e em obras públicas.
Apesar da ditadura do Partido Republicano Rio-Grandense, a oposição libertadora mantinha-se à espreita. A oportunidade para um novo levante apareceu em 1923. De uma forma ou de outra, os moradores do Rio Grande do Sul, todos, tomaram partido de um ou de outro lado.
Bortolo, por motivos óbvios, ficou do lado governista. Seu filho Antônio, de 16 anos, acabou atritando-se com assistas da Colônia Conte d'Eu. Temendo pela sua vida, os Rebonatos decidiram tirar o “chimanguinho” da colônia. Mandaram-no para Luna Agusso, onde morava seu meio-irmão Pedro Grazziotto.
Logo, a riqueza madeireira de Sarandi foi informada ao restante da família, que ficara em Boa Vista. Bortolo pensou que seria bom negócio produzir dormentes. Como inexistiam ferrovias, na região, o negócio foi produzir tábuas. Montou uma serraria em Linha Agusso.
Em Sarandi, à época, as coisas eram difíceis. A Brigada Militar, a serviço das empresas colonizadoras, e homens armados, todos pagos por essas empresar, massacravam os posseiros caboclos que não queriam deixar as terras ocupadas há décadas. Apoiados militarmente pelos libertadores de Palmeira das Missões resistiam. Era uma guerra de vida ou morte. Ocuparam, saquearam e depredaram a serraria de Bortolo Rebonato de Bortolo Rebonato. A família escondeu-se na floresta.
Bortolo faleceu em 25 de fevereiro de 1930. Antônio, seu filho, foi convocado para o serviço militar e incorporado ao 13º Regimento de Infantaria e Cavalaria, em Lavras do Sul. Nessa condição, participou da Revolução de 30, chegando a São Paulo.
Em 14 de março de 1931 regressou a Sarandi. Angelina, sua irmã, foi intermediária de um “namoro epistolar” entre ele e a prima Chiarina Bitarello, que morava em Dois Lageados. Casaram-se a 22 de julho de 1933. A união só acabou 70 décadas depois, a 1 de maio de 2004, com o falecimento de Chiarina, aos 96 anos.
Antônio Bitarello, o avô materno de Alberto Rebonato é uma figura única. Extremante culto, queria que seus filhos não estudassem, dedicando-se apenas ao cultivo do solo. Era um Pol Pot lombardo. Seus filhos sempre se orgulharam dele, pela integridade de caráter.
Recém casado, Antônio Rebonatto retornou para Linha Agusso. Morou durante algum tempo em Barra Funda, retornando para o lar materno, onde permaneceu até transferir-se para Passo Fundo. A exemplo de tantas famílias do interior, foram precedidos pelos filhos em busca de melhores condições de vida oferecidas pelo ensino superior.
Destaco, ao terminar estas notas, os capítulos iniciais de Antônio Rebonatto: um exemplo de vida e as páginas dedicadas ao cotidiano nas colônias italianas. Alberto, com a felicidade dos velhos jornalistas, resume as causas e o processo da imigração italiana; historia a colonização de Sarandi e descreve um tipo de cultura regional praticamente extinta. E não o faz por ouvir dizer. Afinal, ao som de legítimas canções de ninar italianas, embalaram-no autênticas nonas imigradas. A experiência de balanços bancários fixou-lhe a precisão matemática do texto, mas não lhe tirou as marcas deixadas por aqueles cantos ancestrais.

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sábado, fevereiro 21, 2009 - 22:42

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