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PEGASUS - CRONICA

     Abri a porta daquele quarto. Aquele quarto de hotel que não era o meu quarto. Aquele não era o meu lugar. E eu, cansado e descrente, deitei-me naquela cama. E pus-me a pensar em quantos por ali já havia passado. Em quantos destinos encontraram aquele lugar.

     Naquele quarto de hotel eu pensava sobre o mundo enquanto assistia a televisão. Procurava preencher o espaço com minhas ideias. Elaborava teorias. Até que adormeci, abraçado ao meu violão. Despertei algumas horas depois,  com o corpo dolorido devido a postura incorreta.

     Quando abri meus olhos imediatamente reconheci aquelas paredes. Eu não estava preso. Mas, não conseguia sair dali. Algo me detinha. Como se fizesse parte daquilo tudo, daquele lugar, naquele tempo. Apanhei minha jaqueta de couro que estava na cadeira e fui para a rua. Decifrei alguns sinais que chegavam até mim. Lembrei de conjugar meu verbo em algum pretérito perdido num oceano de mais-que-perfeitos. E reparei nos outros. Tantos, tão diferentes! Tão iguais!!! A garota do moleton branco, uma dúzia de pré-adolescentes utilizando  o mesmo tipo de vestimenta. O mesmo corte de cabelo, o mesmo jeito de falar a mesma incapacidade de pensar. Súbito, me pareceu que tudo aquilo havia se transformado. Um espaço aberto porém com limites. Eu estava num imenso viveiro.

    Acendi meu último cigarro. A fumaça elevou-se ao ar como que tentando alcançar as nuvens, lá em cima. Desisti da minha caminhada. Estava preso a uma teoria, a uma ideia, a uma situação da qual eu nada sabia. Era tudo ou nada! Resolvi voltar ao quarto de hotel. Aquele quarto que não era o meu quarto. E quando entrei descobri que ele já havia sido entregue a outra pessoa. "Um outro eu, provavelmente" - assim pensei! Olhei para aquele rosto, não me era estranho. Na verdade eu me vi sentado naquela cama, assistindo a televisão. Podia, inclusive, adivinhar os pensamentos dele. Ele, no entanto, não me viu. Sequer notou a minha presença. Sentei-me ao seu lado e tentei tocar a sua mão. Ele continuava a olhar para a tela sem esboçar um movimento sequer. Desisti da ação. Levantei-me e fui procurar um outro espaço. Pois aquele quarto de hotel, aquele quarto que não era meu, havia sido ocupado por outra pessoa. E aquela pessoa, que era eu mesmo, não se ocupava de mais nada. Ah não ser,  do seu próprio vazio.

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terça-feira, setembro 30, 2014 - 15:11

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Daniel Kobra

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