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Quem Destruiu os Sete Povos das Missões?

Paulo Monteiro

A História é feita com palavras. E as palavras, como as varas, podem ser torcidas ou quebradas. A mentira é difundida sob a forma de palavras. E em História as mentiras contam-se às mancheias.
Uma das maiores mentiras difundidas, inclusive nos mais circunspectos manuais de História do Brasil, é que os Sete Povos das Missões foram destruídos pelos bandeirantes.
Quem dedicar alguns dias à leitura de obras sobre as bandeiras, como os livros de Afonso D'Escragnolle Taunay, sobre o assunto, ou o Dicionário de História do Brasil, de Moacyr Flores, aprenderá algumas coisas interessantes, que resumo nestas linhas. Urge esclarecer que o artigo jornalístico, entre nós, é importante para a difusão de informações, mas impõe limites físicos que asfixiam quem escreve.
A primeira dessas lições é que desde o Século XVI, isto é, poucas décadas depois do descobrimento do Brasil, os portugueses mantinham estreitas relações comerciais com os nativos do litoral rio-grandense, conhecidos genericamente, pelo nome de Patos. Pouco depois entraram em negociações com os Ibiraiaras e outras tribos do Vale do Rio Uruguai, que não gostavam dos Guaranis e, por extensão, dos seus aliados espanhóis.
Ao Sul, os lusitanos uniram-se aos Minuanos e Charruas, estes aquartelados em sua trincheira natural, a Serra do Caverá, de onde partiam em sortidas contra Guaranis e Tapes, que seriam nativos de uma outra etnia guaranizada.
Agora, é bom que se lembre uma coisa: o ocupação do território brasileiro foi efetuada por seguidores da Igreja Católica. Junto com os colonizadores vinham sacerdotes da sua Igreja. E como em todas as sociedades, onde as religiões instituíram sacerdócio, as relações entre sacerdotes e leigos nem sempre foram as mais cordiais. Daí, no Brasil Colônia, especialmente quanto à escravidão, ocorreram "conflitos de interesses" entre esses dois segmentos da sociedade.
Enquanto os portugueses estreitavam relações com os nativos, ocupavam de fato o Litoral e avançavam para o Interior. Tanto isto é verdade que no ano de 1626 os jesuítas espanhóis entraram no Rio Grande do Sul, fundando a redução de São Nicolau. Chegaram em Passo Fundo em 1632, organizando Santa Teresa dos Pinhais, tomada pelo bandeirante André Fernandes, a 23 de dezembro de 1637.
Católicos, não podemos afirmar até onde praticantes, os paulistas, em suas bandeiras, eram acompanhados de padres. Basta lembrar que os conquistadores de Santa Teresa dos Pinhais trouxeram o padre Francisco Fernandes de Oliveira, filho de André Fernandes. E esse sacerdote aqui permaneceu ao lado dos seus compatriotas.
A idéia de que os bandeirantes eram verdadeiros monstros, sem religião, vem das representações movidas pelos colonizadores espanhóis às suas majestades. São documentos eminentemente políticos, como tantos discursos que ouvimos nos dias de hoje, demonizando os adversários. Os bandeirantes não eram nem mais e nem menos católicos do que os súditos de Espanha.
A segunda lição que se aprende ao estudar com um mínimo de seriedade esse período histórico é que a presença dos jesuítas espanhóis em território rio-grandense ocorre em dois períodos bem definidos. O primeiro deles entre 1626, com a fundação de São Nicolau pelo padre Roque Gonzáles de Santa Cruz, e logo depois de 1641, quando jesuítas e guaranis mudaram-se para a margem direita do Uruguai.
"De 1636-38, os bandeirantes Antônio Raposo Tavares, André Fernandes, Fernão Dias Pais e Pascoal Leite devastaram 18 reduções. Os jesuítas conseguiram transmigrar os índios para a outra margem do rio Uruguai e colocar o gado ao sul do rio Jacuí. Esse gado desenvolveu-se abandonado, formando a Vacaria do Mar", escreve Moacyr Flores, à página 510 do seu Dicionário.
Uma vez expulsos os espanhóis - e pouco importa se eram religiosos ou leigos, o importante é que eram espanhóis -, os bandeirantes foram chamados para uma empresa mais urgente: contribuir na libertação do Nordeste, ocupado pelos holandeses, que conquistaram Olinda e Recife, no ano de 1630. Os batavos só deixariam o Brasil, depois que se renderam, em 26 de janeiro de 1654. E também porque as notícias da existência de ouro e pedras preciosas, no Centro, fez reduzir a importância econômica do Sul. E os bandeirantes eram homens eminentemente práticos.
O segundo período tem início em 1682, quando os jesuítas, definitivamente livres da ameaça bandeirante, reingressam no Rio Grande do Sul e fundam os Sete Povos das Missões: São Borja (1682), São Luís (1687), São Lourenço (1687), São Nicolau (1687), São Miguel (1687), São João Batista (1697) e Santo Ângelo (1707). Terminou em 1767, quando os jesuítas foram expulsos de terras de Espanha, como conta Moacyr Flores, no Dicionário de História do Brasil, p. 172. Isto foi depois da chamada Guerra Guaranítica, em que morreu o lendário Sepé Tiaraju, em 7 de fevereiro de 1756, "morto por uma descarga de fuzis", conforme Moacyr Flores, in. Op. cit., p. 300.
Depois que os jesuítas foram expulsos da Espanha os Sete Povos das Missões passaram a ser governados por administradores espanhóis. Estes tratavam os índios de maneira opressiva, o que permitiu que as Missões fossem conquistadas, em 1801, por uma força formada pela junção de 14 desertores, anistiados, sob o comando de José Borges do Canto, 12 comandados por Antônio de Almeida Lara e mais seis soldados de Gabriel Ribeiro de Almeida. No caminho foram sendo engrossados por índios que se revoltavam contra o despotismo dos delegados dos reis espanhóis.
Em fevereiro de 1856, antes de incendiarem boa parte de São Miguel, os guaranis migraram para a margem direita do Uruguai. Essa destruição continuaria graças ao descaso dos administradores espanhóis que tomaram conta da Região e se aprofundaria depois de 1801.
Uma fez na posse do território, os portugueses trataram de ocupá-lo. Para tanto, as autoridades doaram sesmarias àqueles que desejavam mudar-se para a Região. Os primeiros a receberem essa benesse foram os que participaram da conquista. Os índios acabaram despojados de suas terras. Os materiais das reduções, que iam ruindo pelo abandono em que jaziam, foram sendo usados, pelos conquistadores, para construírem suas casas e demais instalações das fazendas.
Em 1817 forças brasileiras invadiram a Argentina e incendiaram várias das antigas reduções jesuíticas naquele País. Dois anos depois veio o revide. Andresito Artigas, caudilhete uruguaio nascido em São Borja, invade assolando Santo Ângelo, São João, São Miguel e São Nicolau. A destruição de São Miguel, pela incúria dos administradores espanhóis, se aprofundara pouco antes da ocupação portuguesa, em 1801.
Para que se tenha uma idéia de como foi lento e longo o processo de destruição das reduções bastam dois exemplos do que acontecia ainda em 1886. A pia batismal da redução de São Lourenço servia de cocheira para os muares de um colono italiano. Com os capitéis, baixos-relevos e outras obras arquitetônicas de São João Batista foi construído um chiqueiro de porcos e as madeiras nobres e melhores pedras empregadas para edificar excelentes casas. Lembre-se que os bandeirantes tinham deixado o Rio Grande do Sul há mais de dois séculos.
Portanto, os bandeirantes não destruíram os Sete Povos das Missões. A destruição foi obra inicial dos próprios índios, ao final da Guerra Guaranítica, persistiu com os delegados do poder civil espanhol e se aprofundou com os colonizadores europeus (portugueses, alemães e italianos) durante todo o século XIX.

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sábado, fevereiro 28, 2009 - 02:12

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