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Spinoza e o Panteísmo - Parte II - A formação do jovem Baruch

Embora fosse filho de um próspero comerciante, o jovem Baruch nunca demonstrou interesse pelos negócios paternos, passando a maior parte de seu tempo na Sinagoga absorvendo histórias como a do suicida Uriel e as de muitos outros próceres de seu povo. A saga dos judeus o fascinava e lhe impregnou a alma de tal modo que mesmo quando foi expulso da comunidade, ele nunca deixou de se sentir hebreu.
E essa fascinação era alimentada por seus estudos quase obsessivos, que, iluminados por sua inteligência superior, logo o tornaram uma referência, sendo comumente apontado como uma futura luz para a fé e para a administração da religião.
Em pouco tempo ultrapassou as questões bíblicas e se iniciou nos assuntos mais complexos do Talmude e dos textos filosóficos de MAIMÔNIDES, LEVI BEN GERSON, IBN EZRA, HASDAI CRESCAS e do misticismo filosófico desenvolvido por IBN GEBIROL e dos estudos cabalísticos de MOISES DE CÓRDOBA, de quem recebeu a vigorosa influência da tese relativa à igualdade ou identificação entre Deus e o universo. Também lhe impressionaram a ideia de BEN GERSON acerca da “eternidade do mundo”; e, principalmente, a de HASDAI CRESCAS sobre o fato de “o mundo material ser o corpo de Deus”. Em relação a MAIMÔNIDES, chamou-lhe a atenção a convergência do mesmo à tese do filósofo árabe AVICENA que afirmava ser impessoal a imortalidade; ou seja, existente apenas na espécie, mas não no indivíduo.
Esse conjunto de novas ideias afastou-o progressivamente da doutrina judaica ortodoxa, compilada na Torá, ou Pentateuco; isto é, os cinco primeiros livros que formam o chamado Antigo Testamento dos cristãos.
As contradições e improbabilidades ali contidas e quem nem os seus estudos sobre as explicações tentadas por MAIMÔNIDES e IBN EZRA elucidavam, levaram-no, por fim, a abandonar aquela trilha por completo, pois quanto mais estudava, mais as dúvidas substituíam as certezas.
A partir daí, sua curiosidade voltou-se para os Pensadores cristãos e para as suas teorias sobre Deus e o destino do homem. Com o holandês VAN den ENDE iniciou seus estudos de Latim e com isso galgou novos degraus na escada do conhecimento.
O professor ENDE tinha traços de herege e era um severo censor das crenças e dos governos e como, em certo momento, deixara a sua biblioteca para viver as aventuras do mundo, acumulou uma enorme riqueza de experiências e de saberes, que o tornaram quase que um ente divino aos olhos do discípulo. Ademais, o mestre tinha uma linda filha que também participava das aulas e isso, certamente, foi um incentivo a mais para que o jovem Baruch em pouco tempo se formasse com distinção na matéria.
Assim, embora o romance com a filha do professor não tenha prosperado, ele aprendeu corretamente o idioma e graças ao mesmo teve acesso aos Saberes de Sócrates, Platão e Aristóteles, além dos sistemas propostos pelos chamados “pré-socráticos”, especialmente Leucipo e Demócrito que o fascinaram com a tese atomista. Também estudou os Estoicos que lhe deixaram marcas perenes; e os Escolásticos que lhe impressionaram vigorosamente, sobretudo pela terminologia que criaram e pelo método que empregavam para expor as suas teorias, o qual se dividia em axiomas, definição, proposição, prova, escólio e corolário.
E logo após essa imersão na Filosofia Clássica, Baruch dedicou-se a estudar o genial Giordano Bruno (1548-1600) cujas teses heterodoxas o deslumbraram, tanto quanto a inteligência e a honestidade de princípios do filósofo, que pagou por ambos o preço máximo de ser queimado vivo pela Santa Inquisição.
Em Bruno, ele descobriu a tese da “Unidade”, que, posteriormente, seria uma das colunas de seu sistema. Aprendeu, pois, que toda Realidade é UNA em substância (ou essência) e em Causa (ou origem); e que “Deus e essa Realidade são uma coisa só”. Pode-se dizer, por isso, que com Giordano Bruno ele descobriu o Panteísmo.
Com efeito, para Bruno, a mente e a matéria são Unas; toda partícula da Realidade é composta inseparavelmente do físico e do psíquico e, por isso, o objetivo da Filosofia seria perceber que existe “unidade” em toda “diversidade” e encontrar a síntese na qual esses elementos opostos se encontrem harmoniosamente.
Na sequência, após Giordano, Spinoza dirigiu a sua atenção para o Racionalismo do chamado “Pai da tradição idealista e subjetiva (ou individual)”, o francês Renê Descartes (1596-1650), que acabou se tornando quem mais o influenciou.
A teoria central de Descartes consiste em dar primazia à Consciência; ou seja, ao fato de que a Mente conhece a si mesma de forma mais imediata e diretamente do que jamais poderá conhecer a qualquer outra coisa, já que o “mundo externo” só lhe chega através da Sensação que as coisas lhe causam e da Percepção ou Ideia que ela cria das mesmas. Assim sendo, a Filosofia, para Descartes, deve começar pela Mente, pelo “Eu” individual, conforme expressa a célebre sentença:

Cogito, ergo, sum – Penso, logo, existo.

A sua teoria ensejou o inicio da Epistemologia, uma tradição filosófica riquíssima que conta em seus quadros com homens como Kant, Locke, Leibniz, Berkeley, Hume etc., que a partir da priorização do individualismo partiram para as análises epistemológicas, buscando conhecer e mensurar a origem, a natureza e a validade do Conhecimento.
Spinoza, porém, não se interessou por esse prisma do Pensamento cartesiano, haja vista que lhe atraia, sobretudo, o ideário relativo à “Substância homogênea” subjacente em todas as formas de matéria; e a “Substância homogênea” subjacente em todas as coisas da Mente.
Seu interesse estava voltado efetivamente para a tese relativa à existência de uma “Essência comum” para as coisas materiais e outra “Essência comum” para as coisas abstratas, mentais, anímicas, psíquicas etc.
Uma dualidade que, a rigor, contrariava o seu anterior apego à ideia de “unidade”, porém, ao invés de fazer dessa contradição um obstáculo, ele o tornou um estímulo para que engendrasse variáveis em seu sistema original; pois, embutido no principio cartesiano, estava a concepção de se explicar o “Mundo Inteiro”, com a exceção de Deus e da Alma, através das Leis mecânicas e matemáticas.
Aqui, porém, devemos abrir um parêntese para observarmos que essa noção não era original de Descartes, vez que remontava a Leonardo da Vinci e Galileu Galilei. Contudo, deve-se ao francês o resgate da ideia de Anaxágoras e de Aristóteles de ter havido um “impulso primeiro”, dado por Deus, para que a “maquinaria” continuasse a funcionar perpetuamente de acordo com as referidas Leis matemáticas e mecânicas. Cabe-lhe, portanto, o crédito de ter atualizado o pensamento de que todos os processos materiais (da queda de uma folha ao movimento de rotação do planeta) podem ser explicados a partir da existência de uma “Substância homogênea*” e pelo fato de eles ocorrerem automaticamente, segundo as instruções emanadas pelas Leis naturais, como a Lei da Gravidade, por exemplo. Ademais, desse modo, segundo ele, comprovava-se que o mundo, o universo, os objetos e os corpos físicos são “máquinas”; e que para além do concreto, do material, existe Deus, enquanto que no interior dos corpos humanos existe a Alma**.

Nota do Autor – Substância homogênea* que, em principio, existe em um formato desintegrado, a chamada “hipótese nebular”, de Laplace e de Kant.

Nota do Autor – Descartes não admitia a existência de Alma** nos animais, vindo daí a sua afirmativa de que esses Seres não passariam de autômatos.

Destarte, com a aquisição desse cabedal de conhecimentos, Spinoza prosseguiu em seu trabalho, do qual falaremos com mais minúcias no desenrolar deste Ensaio.

Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessora de Imprensa e de Relações com o Público. Rio de Janeiro, inverno de 2014.

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quinta-feira, julho 24, 2014 - 15:08

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