Tenho medo

Nunca imaginei que viver seria tão difícil. Viver não é apenas respirar, não é apenas se alimentar, não é apenas amar e não é apenas sofrer. É muito mais. E é esse muito que torna tudo tão complicado. Esse sentir e não conseguir exprimir; esse afecto escondido por entre a aparente indiferença; esse não saber ler o coração; esse paradoxo sentimental que tantas vezes nos impede de avançar.

O medo muda o rumo daquilo que era suposto acontecer, leva-nos por caminhos que no final não levam a lado nenhum. O medo rivaliza com aquilo que deveria ser simples e descomplicado: o amor. Há uma barreira tão grande entre aquilo que sentimos e aquilo que fazemos; entre o que dizemos e o que devíamos ter dito; entre o arriscar e o medo de o fazer. O medo. E é por causa dele que fazemos tudo ao contrário, que perdemos oportunidades e magoamos quem amamos. O medo da rejeição, de não ser correspondido, de parecer ridiculo, o medo de sermos felizes, o medo do próprio medo - toda a gente o tem. A segurança de não agirmos e de nos escondermos dá-nos mais conforto do que a ideia de sermos sinceros com quem amamos ( e com nós próprios) e assim preferimos a solidão de  sofrer em silêncio à hipótese de sermos - e fazermos alguém feliz.

E é por isso que viver é difícil: que quando alguém nos trata mal, não nos deixa entrar é porque provavelmente tem um medo de morte de ser rejeitado; e se nós também tivermos, nada nunca acontecerá. Quem dará o primeiro passo?