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Uma onda sem retorno.
E meio a medo, ela olhou-me nos olhos e perguntou-me: «O que é o amor?»
«Céus…», pensei. De todas as perguntas possíveis ela escolhera talvez a mais complicada. O que é o amor… Fiz uma regressão naquele momento, memórias enchiam-me por dentro enquanto que, surpreso por fora, o meu corpo não conseguia reagir tão imediatamente quanto fora a convicção daquela pergunta.
«O que é o amor…» Eu queria ser sincero, mas para a genuinidade da minha resposta ganhar forma teria de me conseguir desprender da profunda tristeza que nascera comigo e me acompanhara ao longo de toda a vida, acentuando-se em etapas onde realmente fazia todo o sentido que essa agonia se estendesse através da minha figura.
«O que é o amor…» Quando amámos demasiadas pessoas torna-se um sentimento perturbador, um conceito vulgarizado pela nossa necessidade de atenuar a dor que as separações nos causam.
«O que é o amor…»
Há muito que não falava disso com alguém e, estar diante daqueles jovens, puros e ternos olhos azuis, falando de um sentimento que para mim sempre fora tão fúnebre, era como estar envolto numa estranha nudez, trauteando mágoas a alguém que por não ser eu, me fazia sentir esquisito. Mas enchi-me de coragem, olhei os seus olhos de oceano interminável e respondi.
«Talvez sejam três, as formas de amor… Uma primeira, quando desconhecemos a pessoa e apenas cedemos à química que se abate sobre dois seres humanos que decidiram comunicar. Uma segunda, que é quando ainda sentimos momentos semelhantes ao dessa primeira vez mas ficamos menos tolerantes perante os instantes em que as dúvidas, a rotina ou os conflitos entorpecem essa química e, uma última, talvez a mais sentida das formas de amar, que é quando compreendemos finalmente que deveríamos ter abraçado sempre essa química e não deixá-la escapar aos poucos, até ficarmos sós e a pensar nas coisas boas que vivemos ao lado da pessoa que amámos.»
Por momentos, pensei que os seus olhos eram mesmo o oceano. Por momentos nada mais se ouviu senão o barulho do seu leve coração, estilhaçava-se dentro do seu peito. Por momentos, eu soube que alguém me amava.
Pouco depois, ela afastou-se. Nada disse. Apenas se foi embora, como uma onda que nos cumprimenta brevemente e regressa sem retorno ao infinito de onde pertence…
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Comentários
Re: Uma onda sem retorno.
Gostei muito deste texto.
O amor tem tantas formas de se expressar. Mas cada um de nós o sente e o saboreia à sua maneira.
Falando do amor/romance ( porque o maternal/paternal é o unico amor incondicional)diria que poderá ser protecção, terno, cumplice, solidário, intemporal, evolutivo, construído e apaixonado e ...tantas coisas mais.
E sim, também uma onda, que nunca é a mesma.
Abraço
Re: Uma onda sem retorno.
Olá,Rodrigues!
Bons ventos o trazem ao nosso convívio. Seja bem-vindo.
Vejo neste texto-poema uma alma ainda perdida, ansiosa por encontrar a essência desse amor que, proibido ou não, só deseja desabrochar e gritar aos quatro cantos do mundo.Bela reflexão, mas com um certo mistério. Um abraço, Gil
Re: Uma onda sem retorno.
RodriguesPedro
SEJA BEM VINDO AO WAAF8-)
INTERESSANTE ESTE SEU CONTO,
GOSTEI,FALA DO MAR,DO AMOR DA BELEZA DA VIDA
ABRAÇO LUZ :-)
Re: Uma onda sem retorno.
Rodrigues,
Seja bem vindo ao site!
Amei o seu texto!
Todos os questionamentos sobre o que é o amor, eu acho que se encerra nas palavras em destque.Temos que observar e sentir o amor , não deixá-lo escapar, o amor qdo não correspondido, resente-se e vai mesmo@
muito bom mesmo o texto!
"Pouco depois, ela afastou-se. Nada disse. Apenas se foi embora, como uma onda que nos cumprimenta brevemente e regressa sem retorno ao infinito de onde pertence…"
bjs!