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Vampiros e Lobisomens Urbanos

Vampiros e Lobisomens Urbanos
Jorge Linhaça

Os livros e filmes sobre vampiros e lobisomens voltaram com força total nos últimos tempos.

Nada de novo, este é um ciclo que se repete de tempos em tempos desde Abraham "Bram" Stoker publicou seu "Drácula" em uma Londres que na época sofria de uma terrível infestação por sífilis em 26 de maio de 1897.

O romance em si havia sido iniciado em 1890 o que pode demonstrar que o autor, além de seus afazeres como escritor, critico teatral e, em certa época,
administrador do Royal Lyceum Theatre de Londres, deve ter se entregue a algumas pesquisas sobre a temática.

Claro que para o autor Irlandês, a atmosfera sombria da Londres que conhecia, deve ter sido uma inspiração e tanto para a composição dos cenários de sua obra mais conhecida.

Em 1922, "Nosferatu" estreou nas telas, ainda na época do cinema mudo e em preto e branco, como o primeiro filme baseado nas obras de 'Bram Stoker".

Nosso amigo Irlandês era um homem culto para a época e com muitas amizades no mundo do teatro, portanto não é de se estranhar a sua incursão ao mundo do fantástico que desde sempre povoou o imaginário popular.

No entanto, talvez seja interessante um exercício um pouco mais profundo para analisar o porquê dos mitos atingirem tão profundamente o gosto popular.

O teatro, desde sempre serviu-se de metáforas para retratar os medos e anseios de uma sociedade já que , de forma direta isso era impossível em muitas ocasiões.

Como Irlandês, Bram deve ter sentido na pele, em maior ou menor escala, o que é ser estrangeiro em uma sociedade dominada pela aristocracia.

Seu personagem, Drácula, não era inglês, portanto retratava em si, de certa maneira, a personificação do medo contra outras culturas.

A transformação do nobre da Transilvânia em um monstro "sugador de sangue" carrega em si os elementos próprios dos medos que atingem grande parte dos países do mundo ainda hoje, ou seja , de que os imigrantes acabem por "roubar" as condições de sobrevivência das camadas menos abastadas da população.

O fato de o vampiro dar preferência a sugar o sangue de belas e inocentes jovens da aristocracia, transformado-as em mortas-vivas escravizadas, revela em si, o medo de uma contaminação sócio cultural capaz de subverter a ordem pré-estabelecida.

Posto isto, passemos portanto a analisar os tempos atuais onde os mitos ganham novas nuances comportamentais.

O maior sucesso de vendas como livros e mais recentemente como filmes, dentro dessa temática, é a saga escrita por Stephenie Meyer, autora estadunidense que , de certa forma, recria o mito do vampiro de uma maneira mais suave e romântica.

O " novo vampiro" não se alimenta mais de sangue humano e, apesar do desejo famélico pelo sangue da mocinha, represa os seus primitivos instintos.
Ao mesmo tempo, retoma-se o confronto Vampiros Lobisomens, já bem explorado na saga dos "Anjos da Noite".

No caso da saga de Stephanie, os vampiros são retratados em grande parte como os mocinhos da história enquanto os lobisomens são os vilões.

O confronto dos dois clãs, vampiros x lobisomens, ganham, ao menos nas telas, os mesmos ares xenofóbicos, em maior ou menor escala, do Drácula de Bram Stoker, com a diferença de que os vampiros agora são mais toleráveis e inseridos na sociedade, enquanto que os lobisomens são representados como seres guiados pelos instintos mais animalescos.

Por coincidência ou não, em Lua Nova, os lobisomens são representados por atores com características latinas.

Portanto aqui temos o núcleo vampírico, com atores de características étnicas anglo-saxônicas, retratando a sociedade dominante nos EUA e os Lobisomens como seres inferiores retratados de forma a acentuarem a divisão étnica que permeia a mentalidade de Hollywood.

Tudo isto, até o momento, há de parecer ao amigo leitor, mais uma crítica de cinema do que uma crônica em si, no entanto, isto foi apenas uma introdução,
um tanto quanto longa, para chegarmos ao nosso mote principal.

Em tempos de globalização e de aculturamento através de livros, filmes e televisão, as sociedades tendem a reproduzir aquilo que são levadas a ver com mais frequencia.

Transpondo pois, os limites da ficção e do "entretenimento" podemos analisar os vampiros e lobisomens dentro de nossa própria sociedade.

Vampiros existem, embora não suguem nosso sangue como demonstrado nos filmes.

Somos vampirizados diariamente sem nos darmos conta, por pessoas que sugam nossas energias, no que se convencionou chamar de vampirismo psíquico ou emocional.

Esse tipo de vampiros precisa de alguém disposto a dar-lhe total atenção com relação aos seus problemas, sem que eles tenham a menor intenção de encontrar solução para os mesmos.
Alimentam-se de nossa boa fé e quando vão embora, temos a sensação de que estamos totalmente esgotados.

Algumas pessoas até mesmo gostam de ser vampirizadas, assumindo o papel que agora é retratado nos filmes como o do "fornecedor".

Somos vampirizados também em nosso local de trabalho, onde algumas pessoas fazem "corpo mole" sobrecarregando os demais colegas com o acúmulo das tarefas que ele deixa de executar adequadamente.

O vampirismo não para por aí...ele assume várias outras faces...somos vampirizados pelos apelos das propagandas que criam em nós a necessidade de ter o que não necessitamos. Aqui vemos os poderes hipnóticos dos vampiros.

Somos vampirizados pelos impostos exagerados que pagamos, embutidos em cada produto que consumimos.

Somos vampirizados pelos bancos que, além de trabalhar com nosso dinheiro cobram taxas abusivas de serviços e juros exorbitantes.

Somos vampirizados pelos maus políticos que votam apenas projetos que
os favorecem de alguma maneira, emdetrimentode projetos que poderiam favorecer ao povo como um todo.

No entanto, todos esses vampiros são vistos com uma certa tolerância, pois não agridem de forma considerada acintosa ou violenta os nossos bolsos ou corpo.

Já os lobisomens, ah os lobisomens, estes causam um medo e terror que não desejamos ver pela frente. São, em parte fruto do trabalho dos vampiros,
como se fossem cães domesticados que fugiram ao controle dos donos.

Os lobisomens urbanos são oriundos do que se convenciona chamar da ralé da sociedade.

Quando se tira do ser humano as condições mais básicas de sobrevivência, quando confronta-se um grupo social com o espelho da desigualdade, criando neles o apelo de que para ser "gente" é preciso ter uma série de coisas, o ser humano passa a ser comandado apenas pelos instintos, deixa se ser pró-ativo e passa a ser apenas reativo.

É nesse contexto que a sociedade cria os seus lobisomens urbanos.
É dai que o vírus se espalha na escuridão das almas e a marginalidade passa a se transformar em banditismo.

Viciados, ladrões, homicidas, arruaceiros, estupradores... são alguns dos nomes que damos aos lobisomens de hoje.
São os que nos atacam frontalmente privando-nos de nossos bens e atentando contra nossa integridade física.

Ainda nesse contexto, e que também já vem sendo timidamente explorado pelos filmes, surgem os serem híbridos de vampiros e lobisomens, podemos dizer que são lobisomens que conseguiram alguma ascensão social e poder sobre os seus antigos pares.

São os vampilobos, ou Lobopiros, sei lá como chamá-los.

Nessa nova classe podemos enquadrar os grandes traficantes de drogas que transitam entre os dois mundos, o dos vampiros e o dos lobisomens, devido ao poder adquirido através do dinheiro.

Enfim...poderia falar de outros tipos de vampiros e lobisomens, talvez mais lights que estes, mas creio que por hoje já basta.

Protejam seus pescoços para não virarem lobisomem.

Abraços fraternos
Jorge Linhaça

Contatos com o autor
anjo.loyro@gmail.com

Arandu, 01/03/2010
 

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sábado, maio 21, 2011 - 17:31

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