Metronómica
Dizer que te amo não é suficiente
Nada é suficiente quando falo de ti
Ou quando falo para ti
Não é suficiente
Quando me desarmas
Em frases simples
“Meu amor querido”
“Amo-te”
E não sei recompensar milagres
Digam-me que estou cansado
Que não há novidades
Neste lado do espelho inerte
E que as palavras se decompõem
Pedaços de nós
Marcas rupestres
Em momentos perpetuados
Na solenidade do suor e pele
Digam-me com voz convincente
Conivente
Melíflua enganadora
Como se sempre tivessem sabido
Do engano proferido no amanhecer
- Mantras mandalas entoados e desenhados
No leito dos pássaros esvoaçando nas correntes -
E do sentido do encanto da mentira
Mil vezes repetida
Digam-me que estou cansado
Que as palavras me fogem
Sorrateiras nos campos destroçados
Como borboletas
Na ponta da minha língua
Pelo teu corpo
Que a vontade decresce
Sem saber da metronómica do espanto
Vos direi que não
O vosso engano permanece
Frio incólume de mercúrio e aço
Que nada é suficiente
Na tua pele aveludada
Nesse levíssimo tom moreno
Amálgama pueril de sonhos
Me canso repouso e refaço
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