Auto de Açucena

- Branca Açucena
que do fundo nos chega,
conte o que viu
na Terra das gentes.

- Pouco eu vi, poeta que pergunta.
E menos entendi,
pois o véu que o Mundo
nos obriga
roubou o que viam esses olhos
e essa mão (que a Terra
haverá de comer),
só o cinza vazio segurou.

- Mas e a luz que às vezes avistamos?

- Dela, só soube que é semi extinta.
Que são os brilhos derradeiros
de quando o amor existia.
De antes que o medo e o orgulho
apagassem o bem-querer.

- E mais nada restou, Branca Açucena?

- Só a paúra de saber que no Futuro
haverá de se perguntar o por quê
não se deixou a Felicidade ficar.

- E a Ciranda que se ouve, Açucena?

- Essa eu vi. É quem canta e festeja
a tristeza de quem quer sonhar.
Canta e festeja
porque nela está
que em vão já sonhou
e quem nunca sonhará.
Canta e festeja, canta e pragueja
para os sonhos não sonhar.

- Tão triste, branca Açucena.
- Tão triste, poeta que pergunta.

Submited by

Monday, December 10, 2012 - 11:22

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 7 years 51 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Bruxas 2 2.377 07/14/2009 - 14:56 Portuguese
Poesia/General Por quem 1 2.864 07/12/2009 - 21:19 Portuguese
Poesia/Sadness Outono 2 2.219 07/09/2009 - 19:26 Portuguese
Poesia/Dedicated Isabel 1 3.590 07/08/2009 - 13:08 Portuguese
Poesia/Aphorism "Vivere Est" 2 2.566 07/07/2009 - 18:57 Portuguese
Poesia/General Foto 1 2.475 07/04/2009 - 22:41 Portuguese