O DINHEIRO TEM OUVIDOS

O dinheiro tem ouvidos

Quem tem voz pode gritar e sentir,

Para ficar aliviado e fazer-se ouvir,

Mas nem sempre é ouvido mesmo gritando,

A sua voz leva o vento e nada vai deixando,

Perde a vontade de gritar, fica amargurado,

Ninguém quer saber porque está magoado.

Magoado fica até esquecer a sua amargura,

Quem grita e não é ouvido sente tortura,

E cerceado dos seus direitos e sem justiça,

Porque não tem poder, sente apenas injustiça,

É mandado para aqui, para ali, para se fazer ouvir,

Mas, sente-se tão sozinho, sente vontade de desistir.

Desistir, destrói o seu coração a sangrar,

E com a sua alma amarrotada, ninguém o quer ajudar,

É um ser humano pobre e sempre ignorado,

Dizem que tem direitos, é mentira, é marginalizado,

Cai e também se levanta, tem direito a viver,

Veio ao mundo mas dele ninguém quer saber.

Saber, ele não tem, mas a vida lhe vai ensinando,

Que por falta de saber a si próprio se vai desprezando,

Mas continua a viver, de gritar não desiste,

Quer ter vontade e força, não quer ficar triste,

Se ele tem vida e pensa, também tem direito a gritar,

Até que seja ouvido por alguém que saiba mandar.

Mandar, ele nada manda mas trabalha e colabora,

Pertence a este lugar e não se quer ir embora,

Até que seja ouvido e dispor da sua razão,

Mas as portas onde bate, todas lhe dizem que não,

Revoltado e sem saber o que há-de fazer,

Pensa que mesmo assim vale sempre a pena viver.

Viver e ser ouvido ele quer mas sente-se sozinho,

Mas não quer desistir, tem direito ao seu caminho,

Vai por ele desvia todas as pedras que encontra,

E com a sua força de vontade aparece na montra,

Desta sociedade e agora toda a gente o conhece,

É a mesma pessoa mas o dinheiro não o esquece.

Esquece a mágoa, não guarda a sua revolta e rancor,  

Apenas só pensa em viver e demonstrar o seu valor,

Pelos que não quiseram ouvir enquanto gritou ao vento,

Mas o seu passado nunca sairá do seu pensamento,

Vive com ele para o ajudar no caminho do porvir,

É esse o seu desígnio, o caminho que quer seguir.

Tavira, 10 de Janeiro de 2011- Estêvão