CARTAS À NOITE
O espaço cavado em breu
Da melancolia,
A vida envolta em nebulosas,
E os astros ferozes no encalço.
Altos em sua escalada nos céus,
Velozes.
Aperto sob a mão,
Discreta , essa dor no peito.
Nem é desenho de ferida,
Nem exala à mel
O sangue das estrelas.
Apenas arde,
Denuncia ao longe
Querer que nunca acabe,
Fogueira.
Demasiado tarde,
Arrumar o caos,
Iluminar o labirinto
Como se bastasse a luz
Que salta em golfadas
Na respiração da palavra.
Aqui me detive,
Nesse êxtase e aflição.
Eu sinto o cheiro que exala da madeira
Quando a faca mais lhe crava,
A carne.
E tanto mais brilha
O olho da paixão,
Na tez azulada
Da noite alta.
Abraço a escuridão
Nas brancas pontas dos dedos.
Cortamos pelo meio as dores,
Atravessamos as noites,
Nas luas viúvas de sóis postos.
Impossível encontro.
E no entanto,
O gosto esperado no canto
Da boca secreta,
Promessa,
E da mão entreaberta
A ternura lavra seu caminho,
Sem pressa.
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Re: CARTAS À NOITE
Soberbo
"Demasiado tarde,
Arrumar o caos,
Iluminar o labirinto
Como se bastasse a luz
Que salta em golfadas
Na respiração da palavra."
Escreves com uma profundidade e com um sentimento extraordinários. Adoro ler-te
Bjos
Re: CARTAS À NOITE
A AnaLyra calou fundo suas palavras. A construção do poema levou-me ao aprofundar o(s) sentido(s) com que me conduzo - e sou conduzido - pela vida. Belo! Abraços, Pedro.
Re: CARTAS À NOITE
"Cortamos pelo meio as dores,
Atravessamos as noites,
Nas luas viúvas de sóis postos.
Impossível encontro.
E no entanto,
O gosto esperado no canto
Da boca secreta,
Promessa,
E da mão entreaberta
A ternura lavra seu caminho,
Sem pressa."
Como é que agente coloca um poema como favorito?
Precissa dizer mais?
Um dos mais lindos que já li tanto em forma como em contéudo.